quarta-feira, outubro 13, 2004

Hate

Não posso dizer que eu nunca tenha sabido o que era odiar. Aprendi cedo demais a conhecer este sentimento, quando ainda era uma criança. Sempre me senti meio que violentada na minha inocência por nâo ter tido chance de ignorar a existência deste sentimento até a idade adulta. Eu odiei minha avó paterna, um ódio alimentado, herdado, aprendido, revoltado, até o dia de sua morte. E achei que jamais odiaria alguém novamente, jamais conheceria o que significa ir além da raiva com uma intensidade tão brutal, tão violenta, tão sublimada. Eu estava errada. Na noite do dia 11 de outubro, enquanto esperava desesperadamente na incerteza de que teria de novo meu filho em meus braços, depois de mais uma vez ter cedido à minha necessidade de acreditar que as pessoas podem mudar, de ter cometido o erro estúpido de sucumbir à culpa e à pressão social que martelam todos os dias que não importa o quanto o pai do meu filho seja uma criatura psicótica, alucinada e doentia ele ainda É o pai e tem o direito de ver o filho e oh, que coisa mais natural do que deixar o filho passar o dia das crianças com o pai, nessa noite, a cada minuto de desespero, eu tive a certeza absoluta de que odeio esse homem com todas as forças de que
sou capaz e algumas ainda que sequer sabia que existiam dentro de mim.
Eu o odeio profundamente, com uma força e uma intensidade tão grandes que poderiam pulverizá-lo se ele me tocasse. Eu odeio tudo que ele é, tudo que ele faz e tudo que ele representa. E percebi assustada que seria capaz de matá-lo se ele fizesse algo com meu filho, que meu descontrole no que toca a ele é tão intenso que tenho medo de mim mesma, de quem me torno quando penso nele. E que não quero vê-lo nem falar com ele nem deixar que este louco chegue novamente perto do meu filho, que todas as tentativas de ser civilizada e gentil não mudam o fato de que ele se alimenta do meu ódio. Que não posso mais permitir que ele me desestabilize. E que inferno ficar dividida entre ter que explicar ao meu filho porque não quero que o pai dele o veja e
continuar me violentando desse jeito... mas perdão e boa vontade têm limites e ele cagou em cima de todos os meus limites por tempo demais para que eu possa voltar atrás. Que ele morra entalado no seu maniqueí­smo mitômano e de preferência cedo o suficiente para que não possa influenciar meu filho com sua doença.