quarta-feira, agosto 29, 2001

De vez em quando eu me torturo e leio blog de ex... Eu ainda acho ele um excelente escritor e não tiro um cent da sua capacidade como artista. Apenas as coisas na nossa vida particular não funcionaram como deviam. Eu tb tenho meus ressentimentos e minhas feridas pra lamber. Ele continua cultivando sua mitologia e eu começo a criar a minha. No momento em que nosso relacionamento acabou, eu nasci de novo. Mas críticas são legais: são a medida do quanto vc não é o que pensa. Aprendendo com as críticas, já sei que não sou bonita(ou sou menos bonita do que se esperava), que esse blog é um blog idiota e que escrevo textos mala. Como estou me sentindo mais bonita esses dias que a minha vida inteira, nunca me comprometi com a platéia sobre a qualidade do que escrevo, nem posso fugir do que sou nem do que fui, vou continuar postando textos malas e desenvolvendo idéias idiotas. Mas ainda te acho um puta escritor e preferia ser sua amiga. Fiz um filho com você, amo você profundamente, só não quero mais na minha vida os paradigmas que criamos ao longo de quase dez anos. Não quero mais ser a lua, refletindo sua visão de mim ou mesmo a forma como você me amava. Quero ser eu mesma, mesmo que eu seja medíocre ou mala. Pelo menos sou uma pessoa, não uma versão sua de saias. Temos estilos diferentes, mas no fundo ainda somos filhos do mesmo elemento. Ou vc não percebe quanto de mim seus textos ainda trazem?

domingo, agosto 26, 2001

Boa notícia, meninos e meninas. As coisas por aki estão cada vez melhores. Estou até me iludindo achando que vou conseguir colocar material novo na home-page em breve.

Onde será que se meteu a Ana Marta?
E Jim Morrison morreu ou continua vivo por aí?

Mistérios...
Sexta à noite, me dei algumas horas pra fazer uma coisa que não fazia há muito tempo: botei a mochila nas costas, vesti minhas lentes de contato de cores desiguais e atravessei a ponte. Precisava andar pelas ruas da cidade. Precisava sentir seu cheiro, caminhar pelas esquinas, ver o cristo iluminado de qualquer ponto da cidade, saber se os lugares que conheci estavam vivos ou mortos, que tipo de pessoas andam por minha cidade, se as ruas onde morei ainda guardam pedaços de mim. Passei por todos os lugares. TODOS. Eu estive lá. Era aquela garota estranha, de mochila nas costas e cigarro na mão, que tomou um chope sozinha naquela mesa de bar onde você também estava, fazendo versos ou escrevendo histórias, e quando você olhou de novo já tinha ido embora. É que ontem à noite, tudo era saudade. Acho que eu estava precisando disso, esse momento de solidão vadia. Outras noites, talvez, serão para mergulhar na multidão. A catarse, nesta sexta, foi outra: foi uma entrega apaixonada à alma da cidade que mora no meu coração, espalhando meus reais em chopes pelos bares. Talvez nossos personagens entrem um pouco dentro de nossas almas: andando pelas ruas da cidade, me lembrei de como surgiu Gabriel, o poeta-profeta de Decadência, que traduz o que vai na alma da cidade ao passar por suas ruas. Eu também tenho um amor impossível. Como diz um amigo: “it fits you well” Até aí, eu devia saber. NUNCA confie em paixões que nascem na lua minguante. NADA que começa sob o signo da lua minguante pode durar. Eu não poderia me enganar, no entanto: nada de bom poderia sair do encontro de som e luz, água e fogo. Eu odeio princesas louras virgens, boas meninas e namoradas perfeitas. Não é justo... é como no “Casamento do Meu Melhor Amigo”. Ela TINHA que ser tão legal que não posso achar um defeito? E eu nem tenho um amigo gay bonitão pra cantar “a little prayer” for me e dançar comigo no final do filme... Enfim, lamúrias. Anyway, estou voltando às origens... Viver não tem porto seguro e eu estou adiando meu “début” de propósito, estou amadurecendo perspectivas, quebrando velhos paradigmas, me dando um tempo. Mergulhando na cidade, eu me dei ao luxo de me abrir para ela. A superfície mudou, a essência permanece a mesma. Quantos anos se passaram desde que andei pela última vez na Cobal do Humaitá, fazendo compra de sacolão chapada de LSD? Qual a última vez em que beijei uma menina num Halloween do extinto Jumping Jack? Copacabana continua a mesma, há sempre um lugar para ir e dançar, os estilos musicais mudaram, os cabelos mudaram, mas Copacabana continua lá. Os bares do Flamengo e as ruas do Leblon também continuam lá, meio maurícios meio ok. Tenho alergia a gente certinha, me dá nos nervos, mas o carinho que tenho por aquelas ruas me faz esquecer. No meio de tanta gente vazia, sempre tem um ou outro com uma boa história pra contar. Esses, por sua vez, valem por uma noite inteira. E a cidade me deu, de presente, inspiração e determinação para continuar. Às duas da manhã, ela se converteu numa mistura de chorinho, roda de samba e rock das antigas e ganhou o cheiro e o gosto da Lapa, loucamente cheia de uma multitude de todas as tribos, de uma lado Legião Urbana, do outro funk e hip hop, mais um pouco e o insuportável pagode mauricinho. Minha Lapa, de onde o maldito prefeito maluquinho arrancou o Circo em troca de mais um factóide no jornal, que ainda tem a Fundição Progresso e os barzinhos com sinuca, salvou a minha noite e me fez vez a luz do dia por trás dos Arcos. Para abençoar minha noite e encerrar minha busca, já com o sol brilhando sobre minha cabeça, tomei café da manhã na Cruz Vermelha e meditei caminhando pelo Campo de Santana. Que a Senhora dos Caminhos sempre abençoe esta cidade. Quando o tempo chegar, estarei de volta a ela.

Friday night, I gave myself some hours to cross the bridge and come to the city. Wearing my unmatching colour contact lenses and my “city explorer” bag, I came. I needed to walk her streets once more. Feel its smell, cross its corners, see the christ shining upon every part of the city, to know if the places I lived were dead or still alive, see what kind of people was walking these same streets, the ones I lived, discover if they still guard some memory of my dwell. I went EVERY place. You didn’t see me? I was that strange girl with a cigarette in hands and a bag on my back, sitting alone in that same street bar you were, drawing something or writing histories and poetry, and when you looked again, wasn’t there anymore. Giggle, I wasn’t in the mood of staying much time at one place. Friday night, everything was (oh-ohw, THAT word we don’t know how to say in english… solidão, soledad, solitude, pick your choice. I MISSED living in the city with body and soul). I needed this, this bohemian loneliness, wandering alone in Rio. Maybe the characters we create crawl a little into our souls. I couldn’t help myself about remembering how I created Gabriel, the poet-prophet from Decadence, translating his city’s soul declaming poetry while walking on the streets. I have an impossible passion too. NEVER never never believe in passion borned after the sign of waning moon. I should know… nothing good can be brought mixing sound and light, fire and water. I hate blonde princesses, good girls and perfect girlfriends. It’s like “My Best Friend’s Wedding” without a nice gay friend to sing “A Little Prayer” for me and dance with me at the happy end. Isn’t fair. Oh, well, anyway, I’m coming back to my origins… Living is unsafe and crazy enough. I’m giving myself some time to mature new perspectives of life.

quinta-feira, agosto 23, 2001

Eu tinha escrevinhado um monte de coisa pra uploadear hoje, mas o blogger comeu tudinho entre uma desconexão forçada e o famoso "generating page". Me sinto o próprio Neil Gaiman: eu tb jurei nunca mais escrever direto nesta LACRAIA.
Nicholas (sempre me vem à cabeça aquele sotaque delicioso daquela vampira daquele seriado que passou pouco tempo na TV a cabo... Ni-cho-lah...) de volta pro RJ, vai pra Bunker e nem me chama :PPP
Gostei da idéia da lista, mas qual é a diferença entre "desenvolvedores" de quadrinhos e roteiristas, desenhistas e o crew todo? Ela seria restrita só aos "multi"? Existem listas de discussão pra apresentar a galera e criarem novos fanzines, mas todo desenhista que conheço (inclusive eu) sofre do mesmo mal: ninguém tem tempo e ningúem cumpre prazo..
Jim: melhor que "covers" fidedignas são versões que acrescentem alguma coisa ao original. Set your world on fire!!!
Hey Julian

folhas caem dentro de seus olhos
as páginas passam viradas ao vento
outras histórias escrita no ar
não há mais tempo

94
Se Houver um Tempo

Desperte, amor, a noite já chegou
Vamos brindar uma vez mais o fim das esperanças
Não há rotas a seguir, nenhum caminho
Há um velha e conhecida solidão no ar

Neste momento algo em mim está morto
Talvez a juventude chegue tarde demais
Talvez o fim seja inevitável
Nenhum de nós dois sabe do que é capaz
Nem se importa por ser um não-ser

Mas a velha chama da paixão ainda não apagou
ainda somos marginais no nosso amor
Fugindo dos limites de qualquer intimidade
Crianças da noite esquecendo o que não têm

Então vamos viver enquando ainda é tempo
Vamos apenas viver enquanto ainda é tempo
Antes que as flores murchem
Antes que o dia raie novamente
Não posso imaginar momento melhor que agora
Para ter você em meus braços mentindo o amor
Não admitindo que o que sentimos é mais forte que a dor
Veremos anoitecer fazendo amor sob a lua
Sem ter certeza de que haverá um depois
Esquecendo os erros em nossos caminhos
Apenas vivendo um último momento
Como se este fosse o primeiro
Fazendo já não poder existir adeus
Vindo de seus trêmulos lábios vazios
cálidos e amados lábios vazios
exalando melancolia em cada gemido
Não há coração inocente em nossos peitos abandonados
Mas juntamos alguns restos, colamos alguns pedaços
Uma vez senti um sopro de vida passar por mim
Quando olhei em seus olhos procurando me esconder

Quem sabe o amor seja algo assim
Uma história sem começo, nenhum nexo
Esqueça tudo, me dê outro beijo
Não quero pensar por esta noite inteira
Quero viver apenas mais algum tempo
Apenas para ver onde eu posso chegar

3-93
enquanto pego o já amarelecido cahier de poesie, acho algumas pérolas no meio da confusão da minha aborrescência (às vezes acho que minha vida se divide entre antes de 95 e depois de 2000...)
Este é mais um daqueles posts perdidos de quem não tem Internet em casa... agora nem no trb... ô repressão...
Ando finalmente conseguindo me forçar a ter tempo pra começar a preparar material pra minha HP sair do "placeholder
"
Continuo chegando atrasada no trb e tô me fodendo pra isso. Larguei de mão desde antes de quebrar a perna...
Bom, boas notícias sobre a HP:
Estou atualizando o traço e o character design dos personagens de Kika, a última das virgens, criada pelo Alexandre. meu ex. Falando nisso, estou escrevendo a continuação de Agnus Dei, que está bem fiel ao estilo de criação utilizado em Sinchronicity, mas publicar Agnus Dei no site ainda depende do Alexandre aprovar sua publicação, já que os personagens são dele.
Virtual Allie, o mangá-hentai em dois níveis de leitura que criei ao concluir o projeto experimental sobre Quadrinhos Virtuais começa a ser roteirizado
Fotos atualizadas minhas e do Gabriel já foram escaneadas e estou trb elas no Fireworks. Lanika adolescente e Gabriel recém-nascido entre elas :-)) Estou pensando em fazer um ensaio com meu look atual, além da já conhecida "egotrip do banheiro". De repente até rola um erotismo soft, foda é arrumar um fotógrafo legal. Viagens, viagens...
Minhas poesias tb vão pro ar em breve, junto com os contos que estou devendo. A maioria já foi digitada, só falta escolher o formato em que vão pro ar. Provavelmente, com um linkezinho pra contar "histórias de bastidores". Espero que fique interessante, rezo pra não ficar "over" mas refino e debugo no meio do caminho.
Comecei a organizar a cronologia das histórias de Decadência (ainda não coloquei o Tales from). Até o momento, são por alto mais de 60 histórias, fechadas em cinco arcos, até o final explosivo :-))
Faço ou não faço uma sessão de esboços de desenhos? Hmmmm...
Henriques e cia, e-mail me ou me liguem, o aniversário do GABRIEL é DIA 4 DE SETEMBRO AGORA!!!!!!

segunda-feira, agosto 20, 2001

Awake.
Shake your hair from your dreams,
my sweet child, my dear one.
First thing you see…

Há seis meses eu estava morta.
Como uma planta sufocada, seca, sem sol e sem água, eu morri. Minha catábase foi lenta e dolorosa: eu vinha morrendo aos poucos, ao longo dos anos, vendo tudo que amava e acreditava sendo pisado e destruído dentro de mim. Há seis meses atrás eu era uma sombra, pouco mais que um eidolon vagando no Hades. Muito pouco restava em mim. Mas é preciso morrer para renascer e, de algum jeito, quanto mais eu me feria, no ponto em que estava mais fraca, em que minha dor era mais profunda e eu estava mais frágil, eu descobri um ponto de luz. Me olhei no espelho além da sombra refletida: me fiz mulher, me fiz bonita e me fiz livre, subitamente, sem ter tempo de olhar para trás.
Minhas raízes eram fortes; eu renasci aos pouquinhos, de minhas próprias cinzas. Descobri que estava morta e agora tenho muito a aprender, sobre a vida e sobre mim mesma. Perdi dez anos da minha vida. Quando olho para trás, não sei como pude sofrer tanto, uma coisa tão sem sentido, e acreditar que não havia vida possível além daquela morte-vida. Mas agora! Tantas coisas que eu nem sonhava conhecer! Tanto a aprender! Aprender sobre tudo a viver: tudo o que me nomeava me foi tirado, e tendo que viver além dos rótulos e ilusões em que eu acreditava, reconquistando o que faz de mim quem sou apenas com minhas mãos nuas, traçando novos caminhos e retomando velhos projetos e antigas ambições, estou me preparando: estou aprendendo, concluindo e encerrando velhos projetos, ganhando segurança e perdendo o receio. Estou me recriando e descobrindo dentro de mim uma nova mulher.
Estou renascendo, e como um bebê não sei dizer ainda o que sou, quem sou e que nome dar às coisas ao meu redor. Estou me despindo de antigos véus, estou nua e em breve terei direito às minhas armas, e saberei o meu nome. Não sei ainda nada sobre mim, mas sei que já respiro. Eu estava morta e abri meus olhos para uma vida diferente. Gostaria de ter podido estender minha mão a meu algoz e tê-lo feito enxergar o mundo com outros olhos. Gostaria de ter tocado seu coração. Laços demais pesam dentro dele. Tanto que ele não percebe que, de formas diferentes, falamos e buscamos a mesma coisa; ainda somos filhos da mesma estrela.



Uma coisa que me irrita sobre os evangélicos: eu tive a paciência de um dia desses parar para ler um daqueles livrinhos, em que o homem num discurso inflamado defendia que o ser humano era como uma ovelha, que não sabia se defender desgarrada do rebanho e que só era feliz guiada por seu pastor. Sinceramente? Eu não estou nem aí para ser uma ovelha. Eu nunca fui com o rebanho e até onde sei, eu fico doente se alguém me prender em algum lugar. Também estou me lixando para o pastor. E se eu tivesse que escolher, também não seria um deles. Prefiro mil vezes correr com os lobos. Prefiro meus olhos bem abertos. Eu só tenho um guia: meu coração. E o que cometo são erros, não “pecados”. O caminho da ovelha é pura castração.

Nas últimas luas tenho dançado a dança de cadeiras invisíveis no palco do meu coração. É uma busca estranha de mim mesma, nos reflexos úmidos dentro dos olhos de estranhos que cruzam meus caminhos, beijando lábios que vêm e se vão, sem que nenhum toque minha alma, minha alma aflita, sem que nenhum momento me traga mais paz do que medo. Esse terror de me entregar me faz como o vento. Sopro à noite por paragens boêmias, e ao amanhecer retorno ao vazio, sem nada trazer nem nada levar. Apenas o tempo, inexorável, me assusta e me marca. Meu espírito vagueia pela anima mundi, tocando suavemente pontos luminosos conhecidos: qual deles cruzará o meu caminho? Quando meu animus virá até mim? As luas passam como ondas na praia e eu ainda estou aqui, e tudo que tenho agora são novas histórias para contar. Talvez as histórias sejam o que fica, depois que o coração já se foi.

Há mais ou menos uma semana, um rapaz de 16 anos sentou a meu lado no ônibus:
“Dá licença, tia”.
Eu ri:
“Não sei se tenho idade para ser chamada de tia”.
Foi a vez dele rir:
“É? E quantos anos você acha que tem?”.
Não sei. Mas sei que não me sinto, de jeito nenhum, um dia sequer mais velha que há dez anos atrás, quando EU tinha quinze. Tem dias que acho que minha idade é contabilizada pelas marcas que a vida deixou no meu corpo e na minha alma. Sou uma criança no amor, ingênua e sem defesas. Para as responsabilidades da vida, me faço mulher. E há dias em que não sou ninguém, apenas deixo o tempo passar.

Porque será que, quando digo que não sou ninguém, as pessoas não conseguem entender? :-)