Sexta à noite, me dei algumas horas pra fazer uma coisa que não fazia há muito tempo: botei a mochila nas costas, vesti minhas lentes de contato de cores desiguais e atravessei a ponte. Precisava andar pelas ruas da cidade. Precisava sentir seu cheiro, caminhar pelas esquinas, ver o cristo iluminado de qualquer ponto da cidade, saber se os lugares que conheci estavam vivos ou mortos, que tipo de pessoas andam por minha cidade, se as ruas onde morei ainda guardam pedaços de mim. Passei por todos os lugares. TODOS. Eu estive lá. Era aquela garota estranha, de mochila nas costas e cigarro na mão, que tomou um chope sozinha naquela mesa de bar onde você também estava, fazendo versos ou escrevendo histórias, e quando você olhou de novo já tinha ido embora. É que ontem à noite, tudo era saudade. Acho que eu estava precisando disso, esse momento de solidão vadia. Outras noites, talvez, serão para mergulhar na multidão. A catarse, nesta sexta, foi outra: foi uma entrega apaixonada à alma da cidade que mora no meu coração, espalhando meus reais em chopes pelos bares. Talvez nossos personagens entrem um pouco dentro de nossas almas: andando pelas ruas da cidade, me lembrei de como surgiu Gabriel, o poeta-profeta de Decadência, que traduz o que vai na alma da cidade ao passar por suas ruas. Eu também tenho um amor impossível. Como diz um amigo: “it fits you well” Até aí, eu devia saber. NUNCA confie em paixões que nascem na lua minguante. NADA que começa sob o signo da lua minguante pode durar. Eu não poderia me enganar, no entanto: nada de bom poderia sair do encontro de som e luz, água e fogo. Eu odeio princesas louras virgens, boas meninas e namoradas perfeitas. Não é justo... é como no “Casamento do Meu Melhor Amigo”. Ela TINHA que ser tão legal que não posso achar um defeito? E eu nem tenho um amigo gay bonitão pra cantar “a little prayer” for me e dançar comigo no final do filme... Enfim, lamúrias. Anyway, estou voltando às origens... Viver não tem porto seguro e eu estou adiando meu “début” de propósito, estou amadurecendo perspectivas, quebrando velhos paradigmas, me dando um tempo. Mergulhando na cidade, eu me dei ao luxo de me abrir para ela. A superfície mudou, a essência permanece a mesma. Quantos anos se passaram desde que andei pela última vez na Cobal do Humaitá, fazendo compra de sacolão chapada de LSD? Qual a última vez em que beijei uma menina num Halloween do extinto Jumping Jack? Copacabana continua a mesma, há sempre um lugar para ir e dançar, os estilos musicais mudaram, os cabelos mudaram, mas Copacabana continua lá. Os bares do Flamengo e as ruas do Leblon também continuam lá, meio maurícios meio ok. Tenho alergia a gente certinha, me dá nos nervos, mas o carinho que tenho por aquelas ruas me faz esquecer. No meio de tanta gente vazia, sempre tem um ou outro com uma boa história pra contar. Esses, por sua vez, valem por uma noite inteira. E a cidade me deu, de presente, inspiração e determinação para continuar. Às duas da manhã, ela se converteu numa mistura de chorinho, roda de samba e rock das antigas e ganhou o cheiro e o gosto da Lapa, loucamente cheia de uma multitude de todas as tribos, de uma lado Legião Urbana, do outro funk e hip hop, mais um pouco e o insuportável pagode mauricinho. Minha Lapa, de onde o maldito prefeito maluquinho arrancou o Circo em troca de mais um factóide no jornal, que ainda tem a Fundição Progresso e os barzinhos com sinuca, salvou a minha noite e me fez vez a luz do dia por trás dos Arcos. Para abençoar minha noite e encerrar minha busca, já com o sol brilhando sobre minha cabeça, tomei café da manhã na Cruz Vermelha e meditei caminhando pelo Campo de Santana. Que a Senhora dos Caminhos sempre abençoe esta cidade. Quando o tempo chegar, estarei de volta a ela.
Friday night, I gave myself some hours to cross the bridge and come to the city. Wearing my unmatching colour contact lenses and my “city explorer” bag, I came. I needed to walk her streets once more. Feel its smell, cross its corners, see the christ shining upon every part of the city, to know if the places I lived were dead or still alive, see what kind of people was walking these same streets, the ones I lived, discover if they still guard some memory of my dwell. I went EVERY place. You didn’t see me? I was that strange girl with a cigarette in hands and a bag on my back, sitting alone in that same street bar you were, drawing something or writing histories and poetry, and when you looked again, wasn’t there anymore. Giggle, I wasn’t in the mood of staying much time at one place. Friday night, everything was (oh-ohw, THAT word we don’t know how to say in english… solidão, soledad, solitude, pick your choice. I MISSED living in the city with body and soul). I needed this, this bohemian loneliness, wandering alone in Rio. Maybe the characters we create crawl a little into our souls. I couldn’t help myself about remembering how I created Gabriel, the poet-prophet from Decadence, translating his city’s soul declaming poetry while walking on the streets. I have an impossible passion too. NEVER never never believe in passion borned after the sign of waning moon. I should know… nothing good can be brought mixing sound and light, fire and water. I hate blonde princesses, good girls and perfect girlfriends. It’s like “My Best Friend’s Wedding” without a nice gay friend to sing “A Little Prayer” for me and dance with me at the happy end. Isn’t fair. Oh, well, anyway, I’m coming back to my origins… Living is unsafe and crazy enough. I’m giving myself some time to mature new perspectives of life.