Eu acho que não teve uma fase da minha vida em que eu não tenha sofrido algum tipo de preconceito. Por ser mulher, por ser bruxa ("e aí, como é esse negócio de ser bruxa? Faz um feitiço aí pra mim ver! Cadê tua vassoura?"), por ser bi (99,9% dos homens não entende que não fazer distinção de gênero para amar não significa que sou obrigada a realizar sua fantasia frustrada de menage a trois), por ser inteligente ("você vai acabar louca de tanto ler" ou "você é nerd, né?" ), por tantas coisas...
MAS de todos os preconceitos que alguém possa ter para ficar ao meu lado, tem um que me enoja mais do que todos os outros. Porque é profundamente injusto. É o preconceito contra o fato de que eu tenho um filho. É horrível, e infelizmente, é o mais comum.
Já ouvi coisas do tipo "fiquei com receio de namorar você porque mãe solteira só quer saber de namorar para prender o cara". Ou que "não tem tempo a perder namorando qualquer cara, ela está procurando um pai pro filho dela" ou que simplesmente "está desesperada e gruda". Máximas como "serve para comer, mas não para namorar" disfarçadas de forma sutil abundam por aí.
Pelamordetodososdeuses, é como se eu tivesse algum defeito, alguma má formação congênita, um braço no meio da testa, putaquepariu, é de uma criança que estamos falando! Um ex pelo menos admitiu que terminou comigo por causa do Gabriel, mais de um eu tenho certeza de que foi pelo mesmo motivo, inclusive o último.
São relacionamentos com "prazo de validade": conforme vai ficando mais sério, tudo o que seria normal num namoro, querer passar mais tempo junto, pensar em morar juntos etc, toca o alarme e vira o motivo para o descarte. Afinal, nós somos "pacote completo", "kit família" e a maioria dos caras quer começar sua vida com uma garota sem passado com quem ele possa ter os SEUS filhos. Tem os que "caem na real" quando vêem a até-então-amante-gostosa cantar pro filho dormir, correr atrás da criOnça pelo parque ou acordar cinco vezes de madrugada para consolá-lo porque ele teve um pesadelo. Pronto: adieu amour. OhmG, eu sou uma mãe. E daí?
O mais irônico é que eu não apresento qualquer um para o Gabriel (se você não conhece o Gabriel, SIM, você É qualquer um, nada pessoal), separo minha vida fora de casa da minha vida com ele, tomo o maior cuidado para não confundir as coisas, preservo o meu filho o máximo que posso sem deixar de conversar com ele sobre tudo. E nem por isso me furto de ser mulher, trabalhar, namorar, trepar, me embebedar, viver o momento presente etc. Meu filho já tem pai (mesmo que seja um psicopata esquizofrênico). O que eu quero, querido, é OUTRA coisa. AQUELA que você pode me dar. Mas não adianta. Eu já sei como o filme termina, mesmo quando o ator finge bem o seu papel. E eu acho muito triste que a coisa mais preciosa da minha vida seja a desculpa mais usada para ME usar.
Pior é saber que não sou a única que passa por isso.