As memórias que eu não tenho me desesperam.
As palavras que me fogem enquanto falo: a fala arrastada, cansaço.
E eu me pergunto onde foi que foi roubada de mim a menina que eu era.
É no espelho dos olhos alheios que eu vejo quantos pedaços perdi de mim mesma.
Não saber onde, nunca, estão: chave, óculos, chinelos, contas, cartões; 
Não saber nunca o que eu ia dizer enquanto ainda digo. 
Não lembrar nunca, a não ser que fira, marque, calque, tatue, destrua, deleite, arranhe, sangre. 
Meu mundo de frases literárias e palavras espaçadas por silêncios. 
O esforço de manter coeso o fio entre elas traz a dor de cabeça e a exaustão. 
Quando foi que me tornei uma sombra de mim mesma? 
Eu me apago, eu bruxuleio, eu entrecortada pela inconsciência, sou-não-sou por inteiro. Eu. Quem me ama desse jeito pode ver como eu era? 
Tão fragilizada pela vida, por mais que eu tenha lutado, me esforçado, me batido, gritado, esperneado, o cansaço vence. A escuridão vence. Os espaço entre a existência vencem. 
Intermitente. Fragmentada. Cada vez... mais... distantes... a velocidade do pensamento... e a fala...
É um movimento de volta ao autismo da infância talvez? O primeiro sinal de morte em vida? Ou apenas um cansaço imenso que me deixou marcada? Eu não sei. Só sei que me perco...