segunda-feira, março 09, 2009

Full circle

Quando eu era criança, eu sabia EXATAMENTE o que eu não queria ser quando crescesse. Eu não queria ser mulher. Eu detestava absolutamente ter nascido mulher. Eu achava ter nascido mulher num mundo de homens a coisa mais terrível que poderia ter acontecido comigo. E eu achava pior ainda que o destino que queriam me dar era ser igual à minha mãe, à minha avó, às minhas tias, um destino que parecia inevitável.

Estamos falando do final da década de 70 e começo da década de 80 aqui. Ser mulher era ser dona de casa, e ser dona de casa era lavar, passar, faxinar, cozinhar e estar disponível para servir o marido 24 horas por dia. Eu não gostava do jeito que as coisas eram feitas na minha casa, e me revoltava e fugia o mais que podia de atividades como varrer casa ou lavar a louça. Quando me diziam "mas minha filha, se você não aprender a fazer essas coisas como vai se virar mais tarde na vida?" Eu dizia que ia ser uma executiva, que ia ganhar dinheiro o bastante para contratar uma faxineira para arrumar a casa para mim. Eu devia ter 8 anos.

Quando eu era adolescente eu era desastrada, CDF, não tinha jeito com essas coisas de saia, usava jeans e camiseta e era praticamente um menininho. Lá pelos 15, 16 anos eu me amarrava numa minissaia, mas detestava o tipo de atenção que ela provocava. Eu nunca fui muito fã de maquiagem. Eu mesma fazia minhas unhas e pintava detalhes nelas, numa época em que isso não era moda, era só coisa de gente esquisita mesmo.

Levei muitos anos mesmo para entender que ser mulherzinha, ser feminina, gostar de pintar o cabelo, usar maquiagem, ser vaidosa, me mostrar frágil não iria me tornar naquele tipo de mulher que queriam que eu fosse quando era pequena. Eu sou bastante prendada para quem "não ia dar em nada porque não ajudava a mãe em casa". Eu sei costurar, bordar, pintar, cozinhar, passar roupa e arrumar casa, mas eu faço essas coisas do MEU jeito.

E hoje em dia eu me permito descer do salto e pedir um colo, ser frágil, ser menina, usar vestidos floridos, me embonecar para sair de casa, tomar banho de perfume, comprar coisas para mim. Esse negócio de maquiagem ainda é meio novo para mim, do alto dos meus 33 anos. Mas ontem eu fui no LuluzinhaCamp e ganhei de brinde uma máscara de cílios da Lancôme, algo que eu queria experimentar mas nunca tentei.

Hoje a adolescente de 15 anos que mora em mim ficou na frente do espelho fazendo um monte de besteira e meleca passando aquele negócio nos cílios e eu aprendi que eles são mais longos e bonitos do que eu pensava... e eu nunca reparei nisso antes. 33 anos de vida e eu ainda estou me conhecendo e aprendendo a relaxar e tateando todas essas coisinhas que "ser mulher(zinha)" e "cuidar de si mesma" têm.

Ainda acho que nunca vou me tornar o tipo de mulher que vai pra um encontro de MSX em Jaú pra comprar sapatos ao invés de ficar babando nos computadores... Só que o molequinho de calça jeans hoje em dia usa batom Duda Molinos, sem culpa, e adora.