domingo, fevereiro 13, 2005

Oh tu, que és todo o meu desejo. Quão intensos e irresistíveis são os beijos que roubo de teus lábios em minhas fantasias... Quase posso adivinhar o sabor que têm os teus lábios, tua língua. Quase posso adivinhar que já tocaste quase tantas bocas quanto a minha. Um adversário à altura no mais antigo dos jogos. Brinco com a idéia de ter você como um gato brinca com sua comida.

Somos dois gatos, eu sei. Você, gato arredio, jeito malandro, curioso, olhando de cima do muro. Eu, vagando pela vizinhança à noite, procurando encrenca, chegando de mansinho, me esparramando abusadamente pelo teu gramado, rolando pelo chão e me divertindo em te olhar de soslaio, esperando.

Mas se em minhas ilusões já percorri cada milímetro do teu corpo adorado com minha língua e meus lábios já beijaram cada uma de tuas pintas, se teus dedos longos, brancos e finos já percorreram cada uma das minhas curvas, eu não ousaria ultrapassar a linha imaginária traçada pela minha timidez e se me perguntasses se era por ti que escrevi cada uma dessas linhas, eu negaria.

Sim, eu te quero e brinco com a idéia obssessivamente. Mas o que pode me dar a realidade de diferente daquilo que já tive mil vezes? Ter você uma noite, ter de esquecer esta noite uma vida inteira. Já estive aqui antes. Se posso vestir minhas fantasias com tua face, ousaria eu macular teu mistério com a realidade vazia? Mas o desejo é mais intenso que a razão, com um toque teu eu me renderia, minha máscara de indiferença se dissolveria, em teus braços eu dançaria, mesmo me sabendo errada e perdida, numa noite de lua crescente, no meio da rua ou em algum motel barato, quem sabe. Gata no cio, gato arredio, somos apenas gatos.