sábado, abril 09, 2005

É de manhã que ela vem. Essa dor imensa de existir. Essa vontade esmagadora de não sair da cama. O pesar numa balança negra o quão pouco tudo ao meu redor vale a pena. Pessoas erradas, gestos errados, palavras erradas. O cansaço. O peso no corpo, na alma inteira, ter de levantar da cama e me forçar a arrastar por mais um dia vergando sob um peso maior do que eu. A pior luta diária que um ser humano pode enfrentar: lutar contra si mesmo. Não há, não há quem me abrace nessas horas. Eu gostaria de ficar chorando um pouco na cama, mas há todas as obrigações do mundo me esperando lá fora. Eu não tenho tempo para o meu próprio sofrimento. Mas a dor é exigente, e o esforço de fazer todas as coisas que me levariam em direção a uma rotina estável é tão grande que suga todas as minhas forças. Que pessoa pode entender? Alguém sabe por acaso o que é passar um tempo inominável todo dia de manhã caída sentada no chão do box com água caindo furiosamente sobre seu corpo, fraca a ponto de não aguentar o peso do próprio corpo, contemplando a possibilidade de acabar de vez com toda essa loucura, essa batalha, esse cansaço imenso de tudo e todos, ferida por um milhão de coisas e pessoas acumuladas ao longo dos anos, desejando não ser covarde o suficiente para finalmente pegar um bisturi e dar fim a tudo isso? Procurei ajuda de tantos jeitos, e tantas pessoas dizem que entendem mas lidam com tudo como se fosse tão fácil. Só os efeitos colaterais dos remédios funcionam, a dor não acaba, no máximo consigo me forçar a empurrá-la para dentro, para um lugar onde não atrapalhe tanto ao longo do dia. Como disse, não tenho tempo para isso. Trabalho, filho, colégio, amigos, amantes. De noite o cansaço de todas as coisas que aconteceram ao longo dos dias vence, mas na minha cama eternamente vazia quem pode me proteger das madrugadas em que acordo sozinha ou da hora de despertar? Não existe nada nem ninguém. Só a tristeza, só o desespero. Não quero pena, quero consolo e ajuda. Sinto a cada dia minha saúde mental fragilmente se desfragmentando. Meu destino final ou é o manicômio ou o suicídio. Estou cansada demais para acreditar que o meu problema tem cura e que eu possa viver algum dia sem ser assombrada pela doença. É uma luta terrível, de morte, entre nós duas. Se eu não conseguir domá-la, se não conseguir vencê-la, matá-la talvez, ela me matará. Eu estou morrendo há alguns anos já, lentamente. Todo o resto é passatempo, uma tentativa fútil de me apegar a alguma coisa para acreditar que vale a pena permanecer viva mais alguns dias. Agora é levantar e ir cuidar dos meus afazeres do dia a dia. Já perdi aqui tempo demais.