sábado, junho 25, 2005

Consegui uma paz estranha à custa de abdicar de muitas coisas. Há anos não me permito amar alguém. Matei com determinação os poucos germes de paixão que insistiram em brotar no terreno baldio do meu peito e até que foi fácil. Eu não procurei: amor, paixão, tesão, homens, mulheres. Eles me procuraram, uma ou duas vezes. Dei o que cada um queria, embora não tenha dado o que esperavam. E de mim, qualquer parte que fosse, nunca mais dei nada a ninguém. Um controle frio e absoluto sobre cada aspecto. Uma determinação forte demais de nunca deixar acontecer de novo. Eu ando pelo mundo todos os dias. Interajo, falo, até rio. Mas você nunca vai saber, nunca vai enxergar, a não ser que olhe por tempo suficiente dentro dos meus olhos, o quão me fechei para qualquer coisa ao meu redor. Você não vai olhar porque você não se interessa por isso. E mesmo se você tentasse, se começasse a intuir a verdade, eu me retrairia.

Poucas pessoas até hoje começaram sequer a entender porque dentro do meu olhar existe tanta tristeza, a maior parte do tempo oculta em algum canto, mas eternamente existente. É porque fizeram as perguntas certas do jeito errado, ou as perguntas erradas mesmo. A incapacidade de sair de si mesmo e tentar enxergar com os olhos do outro é comum demais por estes dias. Eu? Eu silenciosamente observo e aprendo como você é, como você sente, o que você sente e até que segredos você esconde, sabendo que você não pode fazer o mesmo por mim. Você não me mentende e me julga por seus própros parâmetros que raramente se aplicam a mim. Se às vezes eu me submeto, é por curiosidade de saber até onde isso pode ir ou por pena, mesmo. Ou apenas para constatar que a história sempre se encaminha e sempre termina do mesmo jeito. Tudo previsível.

Penso duas ou três vezes em interagir com o mundo lá fora. Existe um lugar dentro da mente das pessoas, fora delas, qualquer coisa que não seja mais do mesmo? Qualquer coisa que eu não tenha visto antes? Qualquer coisa que se sinta, com tantos sentimentos deve ter algum que sirva? Eu nunca sei se vivi demais ou se apenas estou entediada demais ou se ando nos últimos anos apenas pelos lugares errados. Se for isso, onde está o lugar certo? E nesse lugar existirá alguém para me dizer que meu tédio está errado e que existe algo além de mais do mesmo e outros tipos de paz além da paz do eremita? Um lugar onde meu autismo seja desnecessário, onde eu esteja à vontade fora da solidão que criei ao meu redor e que hoje abandono raramente, porque estar só comigo mesma, mesmo que perturbada por lembranças ocasionais de amores, tesões, paixões, sentimentos e mágos passados, é o que mais amo e mais desejo neste momento? Bah. No creo. Estou apenas brincando comigo mesma.