domingo, abril 02, 2006
Às vezes eu viro um bichinho. Bichinho tão sofrido, ai minha mãe. Eu aqui me consumindo sem salvação. Vou ou não vou em busca de aconchego? Quero A, não quero B. Mas ele não me quer. Pelo menos não agora, já. E eu bichinho pedindo amor, amor, um amorzinho bem pequeno, só um pouquinho sabe, só pra passar um pouco a dor. Assim que nem beijo de mãe no machucado. Olha, meu coração está com um roxo, põe a mão aqui, viu? Fica com ela aí, fala pra mim mansinho assim: vai passar, vai passar shhhh... Fui criança de cabelos de índio cor de arco-íris, o sol passeava pelos fios e brilhavam todas as cores, hoje ficaram apenas o preto, o branco e o vermelho. Passou. Podia ter ficado mais um pouquinho, mas fugiu. Foi se esconder dentro de duas jaboticabinhas, ai vida, tanta vida nelas, como brilham, fico vendo o arco íris brilha-brilhando nelas, toda a vida que existe no mundo jorra abundante nesse menino. Minha vida, mas tão melhor, nada de espelhinho, vai brincar e descobrir tudo de novo pela primeira vez. E eu. E eu? Eu bicho-mãe, forte e poderoso, eu bichinho aflito e sofrido, encolhidinho na chuva, me pega e me bota no colo, deixa eu me esconder num cantinho, achar cama macia e abraço quentinho, só um pouquinho, tá? Aí eu fico forte de novo, cruzo montanhas e mil oceanos e no meu olhar cabe de novo todo o horizonte, o pôr e o nascer do sol. Mas hoje não dá, hoje não dá. Vou consertar a minha asa quebrada e descansar.