quarta-feira, julho 11, 2001
Aí pego o Jornal do Commércio de ontem, coluna “Internet & Ci@” (leitura obrigatória quando estou offline) pra ler o artigo “E-lawyer” intitulado “Braquintosh” sobre direitos autorais numa era em que os “autores modernos utilizam cada vez mais material que outros já terão criado antes”. Okeis, ponto. Não discordo duma vírgula do que o professor falou on artigo. Mas vamos colocar uns adendos aí: não é só a questão da Informática ter possibilitado a criação de obras sem a intervenção física do autor, a intervenção do autor ainda se faz necessária em algum nível. Vamos lá: “a informática torna possível a criação de obras sem que nenhum autor humano possa ser designado. Um exemplo é a música composta por um programa que, associado a uma filmadora, faz melodias em sintonia com os movimentos capturados da lente. As músicas assim produzidas não podem ser consideradas obras que o programador tenha diretamente criado”. Neguinho acha que com a Informática descobriu a roda. Embora computadores sejam utilizados para criar obras de arte experimentais, em qualquer faculdade de belas artes você verá exemplos de “instalações” em que atos pressupostamente mecanizados vão criar algum tipo de impacto sobre o espectador/apreciador daquela obra. Se não foi o artista que inventou o ventilador que borrifa gotas aleatórias de tinta sobre uma superfície, foi ele o autor intelectual da forma com que todos esses instrumentos interagem de maneira única para criar aquela experiência que carrega em si o impacto da “aura” que a torna arte. CLARO que se alguém perde um tempo precioso pra armar toda uma traquitana pra criar música utilizando movimentos capturados de uma câmera para produzir uma experiência única, é o autor dessa experiência, ou ao menos do resultado obtido através dela. Essa visão me irrita: computador é ferramenta, é um pincel poderoso pra cacete, mas é um pincel. Quem cria é o cara que ta lá, não importa se ele vai fazer uma colagem ou começar a partir do zero. Sim, porque colagem é outra coisa que sempre existiu. E se formos falar em “originalidade”, até mesmo os pintores renascentistas se “inspiravam” em obras do período romano, que se “inspiravam” nos gregos e até hoje nunca vi ninguém desmerecer essas obras por serem baseadas em outras. Agora, esse saudosismo do processo manual de confecção de obras artísticas me lembra coisa do século passado, de início da revolução industrial.