Quando eu cheguei lá no HASP segunda, tudo o que eu queria era ter alta e voltar ao trabalho. Havia pouca gente na espera da clínica de Cirurgia Geral (o nome sempre me deixa um pouco confusa - demoro a associar com o consultório e tendo a associar com a operação per se), o que sempre deixa o Namorado impressionado. A verdade é que os hospitais militares são a única parte do sistema público de saúde que não foi sucateada - e os da aeronáutica são todos centros de excelência e referência, uma das raras vantagens de ser filha de militar).
De repente o médico abre a porta do consultório e começa a falar comigo como se já me conhecesse, intimamente. Eu me sinto estranha daí eu me manco: claro que ele me conhece, ele provavelmente foi o cara que abriu minha barriga e eu tava apagada por conta da anestesia. Daí ele me examina, diz que estou evoluindo bem, mas não me dá alta. Pergunta dos sintomas do pós-operatório que eu tou sentindo e me explica que, ao contrário do que eu pensava a princípio, o meu quadro já havia evoluído para uma pancreatite. Fiquei branca. E ele me bota de molho por mais quinze dias.
Dá um pânico realizar de repente que você esteve muito mais perto da morte do que você pensava que havia estado. Justamente agora que eu estou tão feliz, pela primeira vez na minha vida... Talvez seja um aviso dos deuses para beber ainda mais sofregamente destes momentos de felicidade que têm-me sido dados.