quinta-feira, janeiro 11, 2007

Eu não disse isso

Não posso dizer que só um determinado tipo de gentinha que se acha melhor do que os outros só porque está comendo uma modelo-e-atriz seria capaz de achar que tem todo o direito de trepar em público sem infringir nenhuma lei. Eu não posso. Também não posso dizer que adoraria que alguém do governo espanhol processasse o sujeito por atentado ao pudor, afinal foi isso que eles fizeram (ou não). Aliás, isso me lembra um dos motivos pelos quais eu detesto argentinos: eles sempre vêm pro Rio de Janeiro fazer um monte de merda na praia de Copacabana, tratam as meninas que estão na praia como prostitutas e a todo e qualquer brasileiro como lixo. Será que eu posso dizer que o tal casalzinho teve o mesmo tipo de total e completa falta de respeito pelas outras pessoas no balneário espanhol? Não, eu não posso dizer isso.

Também não posso dizer que o casalzinho ao se expor deste jeito tão conveniente estava implorando para que alguém os visse, filmasse e rendesse um escândalo para alimentar a fome da barraqueira (ops, eu não disse isso!) por primeiras capas de jornais. Imagine. Inocência a minha se dissesse que foi proposital, afinal depois de anos lidando com os paparazzi naturalmente ninguém esperaria que algo assim fosse acontecer. Nem eu.

Também não estou dizendo que o imbecil ainda por cima criou um caso de estupidez como nunca dantes visto na justiça brasileira, que ao invés de punir o EXIBICIONISTA por atentado ao pudor em conjunto com o governo espanhol, serviu de palhaço para todo o mundo civilizado ao inverter completamente os valores da lei e aceitar dar um tiro de bazuca com bala de matar elefante e mandar fechar o acesso ao YouTube inteiro por causa de um vídeo que na verdade nada mais é do que uma ferramenta de auto-promoção da (eu não estou dizendo isso) dublê de modelo-e-atriz que até tem no currículo o típico casamento com um jogador de futebol. Em matéria de factóides que este ser cria, até o César Maia parece uma freira virgem num covento do século XVIII. Não que eu tenha dito isto.

Pois é. Acontece que eu estava em São Paulo nesta terça-feira. Na noite anterior, a de segunda, vi no Youtube vários vídeos da banda de um amigo meu. Também tem outro que está fazendo um curta. Na terça de manhã, no que vou repassar o endereço do vídeo da banda para outra pessoa, me deparo com o seguinte:



Poderia ter várias causas. Deveria ser algo importante. Afinal, porque a Justiça iria bloquear o acesso a um site inteiro? A briga com a Google por causa do Orkut veio à minha cabeça. Será que eles encontraram algum vídeo de pedofilia e o Google negou fornecer o IP do usuário?

Quando fiquei sabendo o motivo, a primeira coisa que pensei é: definitivamente, este não é um país sério. Como pode ser, quando o poder judiciário compactua com uma palhaçada dessas? Como é que um juiz de direito pode ser ainda tão BRONCO em matéria de tecnologia para suspender o acesso a um site por causa de um usuário do serviço?! É como fechar um hotel porque um dos hóspedes dentro de seu quarto fazia algo ilegal ao invés de punir o infrator. É punir o veículo por um fragmento de informação do qual ele não foi o autor, mas, como o próprio termo diz, um VEÍCULO. Além de ser uma estupidez sem tamanho, porque não li em nenhum lugar que alguém tenha LIDO os termos de uso do YouTube. O vídeo-factóide de auto-promoção (conheço muitos marketeiros que matariam para conseguir a audiência que as ceninhas de exibicionismo geraram, EXCELENTE jogada de marketing viral, meus parabéns!) infringe várias regrinhas da utilização do YouTube. Alguém conversou com os caras para tomarem uma providência em conjunto? Nããão. Vamos ser arbitrários e fazer a opção desenfeliz de forçar os provedores de acesso à Internet a bloquear TODO o acesso a um site que tem vários usos legítimos por pessoas de bem (posso até imaginar o choque das equipes dos provedores com o tamanho da burrice e arbitrariedade da decisão à moda portuguesa do juiz analfabeto em tecnologia). Pois é... o caso teve o efeito esperado. Não posso dizer que o imbecil que está comendo a barraqueira (juro que eu não disse isso) agora seja muito bem conhecido e odiado por qualquer um dentre os formadores de opinião brasileiros. Nem devo dizer que a mesma criatura conseguiu voltar à primeira capa dos jornais depois do assunto ter esfriado na mídia (em Marketing a gente chama isso de campanha de sustentação; serve para reaquecer o interesse do público numa notícia velha e normalmente é deslanchada de duas semanas a um mês depois da campanha original. Confere?) Também não posso imaginar que uso possa ter aparecer em um escândalo sem precedentes na história da Internet mundial na capa de jornais e veículos de comunicação de vários países em todo mundo tenha. Não posso, juro.

Porque se eu tivesse dito todas essas coisas aí, e eu não disse em nenhum momento, alguém poderia arbitrariamente considerar meu pobre bloguinho pessoal, no qual eu escrevo para meia dúzia de vinte pessoas, um risco ao país e mandar o Blogger ser bloqueado. Ou a Google. Aliás, porque não bloquear logo de uma vez a Internet inteira? E, claro, oferecer cursos de chinês mandarim para a população inteira.

PEQUENO UPDATE: A Folha de são Paulo disse (não eu) que "após o vídeo, C... valorizou seu passe e renovou contrato com MTV". Nossa! Que coisa inesperada, não?