quinta-feira, maio 23, 2002

O inferno na vida são os outros... mas muitos de nós passamos nossas vidas inteiras buscando o outro, querendo nos fundir ao outro, para ver se no outro encontramos um pouco a nós mesmos... Nós nascemos completos, plenos de sentidos e sentimentos, inteiros, perfeitos... Mas nascemos já de dentro do outro e é apenas com nossa sensibilidade que podemos interagir com o mundo, mas o contato será para sempre e sempre imperfeito, porque o que está do lado de fora jamais conseguirá tocar com perfeição aquilo que temos no mais profundo de nós mesmos... O contato com o outro é danação, e a pureza que se perde na vida vem dos contatos rasteiros e rascantes que vêm raspar e arranhar a superfície de nossas almas e sentidos com contatos imperfeitos... É uma conexão de sentidos imperfeita, são arquétipos mal-colocados que nunca se encaixam com exatidão. E o que chamamos de amor perfeito nada mais pode e deve ser que a união plena e o pleno encaixe do perfeito côncavo com o perfeito convexo... onde sobra um espaço, sobra também a imperfeição... Uniões imperfeitas tendem ao desgaste, é preciso haver atrito para se forçar a união de formas e quase sempre no final o que resta são formas deformadas e tortas, sem a beleza retilínea e homogênea do metal polido das almas intocadas... E a vida tende a tornar a superfície de nossos corações tão irregular e cheia de depressões e sulcos que é preciso um pequeno milagre para que se possa polir sem atrito a superfície dilapidada até que ela ganhe novamente o antigo brilho e possa enfim se unir àquela generosa alma que com paciência artesã restaura a pureza das antigas formas e traz a cura e a paz... O amor perfeito e a perfeita união não são apenas uma questão de encaixe absoluto, eles transcendem a si mesmos e se fundem, se misturam, se homogeneízam, tornam-se um todo em novo formato, um hermafrodita sem fim nem começo, como um círculo ou anel, o segredo contido na armilla, o ouroburus que renova a si mesmo. O contato com o outro é danação, mas a pureza do encontro perfeito nos redime e se nos sujeitamos a uma vida inteira de atritos e gemidos na eterna busca, é porque sabemos que o encontro final do outro que seja espelho, que seja mais que isso, o inverso do avesso de nós mesmos, nos transcende através do amor e nos mostra um vislumbre do divino, que é a forma mais sublime deste mesmo sentimento que, limitados por nossos sentidos, apenas podemos perceber de uma forma rude e incompleta... A transcendência do amor humano é a própria essência do que compõe a divindade.

The hell in this life are the others... but many of us will pass our entire lives seeking the other, trying to fuse ourselves with the other and trying to see into the other a litle bit of ourselves… We’re born complete, full of sensitivity and feelings, whole, perfects… BUT we’re born from the inside of the other and is only and barely with our sensibility that we can interact with the world, but the contact will be forever and ever imperfect, because what’s outside will never be able to touch perfectly what we have in the deepest and inner of ourselves. Contact with other is damnation, and the purity you loose in life comes from the rough and coarse contacts that scratch and screech the surface of our souls and senses with imperfect fittings… It’s a failling bond of senses, archetypes badly put never fitting exactly… And what we like to call perfect love would be nothing more than a fulfilled union and the matching of the perfect concave and the perfect convex… where there is a breach, imperfection spreads into… Imperfect unions tend to stiff, there must be atrict to force a coming together and in the end what's left are twisted and misshapen outlines without a trace of the luminous beauty of polished metal of unmarked souls… and life tends to make the outer of our hearts so uneven and full of shifts and swells that a little miracle is needed to polish without coarsing its dilapidated surface until restoring the old spark and finally allowing its union with the generous soul that with gifted serenity rebuilt the purety of its old lines bringing cure and resting peace… Perfect union and perfect love aren’t barely the matter of absolute matching, they transcend themselves and mix and blend until becoming a whole new being, an hermafrodyte without beginning nor end, a circle, a ring, the secret enclosed into the armilla, the ouroburus recreating itself. Contact with other is damnation, but the purety of the ultimate meeting redeems ourselves so much that we subject ourselves to an entire life of scratching and moaning on a perpetual seek just because we know that this ultimate gathering with another that is a mirror, and more than this, the absolute inverse of the overturn of what makes ourselves, transcending ourselves by love and showing us a glance on the inner of divinity, which is the most sublime outline of this same feeling that, overlimited for our rude senses we can only distinguish in a failed and inaccurate nature… Transcending human love is the essence of what makes divinity.