terça-feira, junho 17, 2003

Meu humor anda oscilando cada vez mais entre uma solidão absoluta, depressiva e paralisante e picos raros de normalidade nos quais tento me equilibrar desesperadamente e negar o eco de algo entre Clarice Lispector e Virginia Woolf que vem assaltando meus pensamentos, no long way home de cada dia: a certeza de que estou enlouquecendo... E eu ando fugindo disso de todas as maneiras, me drogando com conhecimento, me anestesiando, me absorvendo em uma fome de informação atroz, devorando livros e mais livros, textos e mais textos, ocupando o meu tempo e a minha mente, porque não quero estar a sós comigo mesma, não quero sentir meus pensamentos se fragmentando incoerentemente dentro de mim, essa necessidade desesperada de algum apoio fora de mim, de alguém do meu lado para me manter coesa, para que eu não me sinta como uma nau à deriva no meio da tempestade... E me perguntam o que estou sentindo e porque me sinto assim, como se houvesse resposta possível! E me dizem que eu não deveria me sentir assim, o que só aumenta minha solidão - como se com um gesto das mãos eu pudesse arrancar a escuridão de dentro de mim e me tornar uma criatura saltitante... E eu digo que não estou vivendo como quero, mas quando me perguntam o que eu quero eu já não sei a resposta... o que eu queria não é mais o que eu quero agora. Eu quero ficar sozinha, eu não quero ficar sozinha, eu queria fazer coisas que agora não quero mais... E tudo soa fútil e vazio em palavras, desesperador tentar explicar para outras pessoas o que não se consegue expressar por palavras, enquanto o abismo se torna cada vez mais próximo dentro de mim e eu me perco mais e mais e mais... Somebody save me from myself? E eu fico tentando descobrir de onde tudo isso vem, toda essa dor, toda essa angústia... Do silêncio, talvez? Eu sempre fui "forte" mesmo sendo fraca, sempre sobrevivi... Não deixei que nenhuma das violências cometidas contra mim nessa vida me derrubassem de vez, me impedissem de viver... Mas às vezes eu acho que tudo aquilo que guardei dentro de mim, tudo aquilo que não me permiti sentir ou sofrer às vezes se acumula e vai me consumindo por dentro, como um câncer... E eu continuo fazendo isso, continuo me forçando a engolir o que eu sinto, continuo reprimindo o meu desespero, escondendo dentro de mim uma carência imensa e intolerável de algo que não está disponível a não ser nos momentos convenientes e apropriados... Incapaz de ter coragem de revelar a alguém o quanto sou pequena, carente e preciso de ajuda, incapaz de me fazer compreender através da frase mais simples e mais sincera, "eu preciso de você ao meu lado" (there's no one in baby... leave your message after the beep), eu deixo o monstro me consumir por dentro e caminho a passos largos em direção da insanidade ou fujo de mim mesma vivendo outras vidas através de textos e mais textos que se sucedem diante dos meus olhos, outras histórias que não a minha tão vazia e angustiante, tão sem razão ou justificativa para esse me sentir assim... Eu estou vivendo vidas paralelas, fragmentadas ao infinito... E que diferença faz se não faz absolutamente nenhum sentido? Amanhã talvez eu encontre algum alívio ou consolo que hoje sou incapaz de entrever...