segunda-feira, setembro 01, 2003

Reminiscências...

A coisa que talvez me deixe mais aborrecida e chateada com relação a meu ex-marido é que começamos como amigos, nos tornamos namorados, casamos, me separei dele e, infelizmente, de jeito algum, consegui que permanecesse a amizade. Não sei se fico mais triste ou apenas mais cansada de saber que não podemos conversar sem que haja atrito, nenhuma frase pode ser dita livre de segundas intenções e recebida da mesma forma... Como pode ser que os anos tenham transformado o homem que mais me entendia no mundo no homem com quem toda tentativa de comunicação e entendimento está fadada a gerar frustração e ressentimento? Como pode ser que tenhamos amadurecido em direções tão opostas e divergentes? O que resta de amor no meu peito e o antigo estremecimento diante de coisas tão simples como estar perto dele, sentir sua presença única perto de mim, acaba por ser como uma flor que teima em brotar nas brechas de uma calçada apenas para ser pisoteada a cada tentativa de sobreviver. Acho que apenas minha teimosia ainda retém o pouco que restou daquilo que se esgotou no cansaço acumulado de anos de agressões de sabores variados... essa última teimosa migalha de amor que não quero que vire apenas a lembrança de um amor que perdeu a razão de ser mas que um dia foi imensamente belo, não quero esquecer que para cada noite escura, amarga, abusiva e angustiante tive minha porção de manhãs de sol, céu azul e cheiro de felicidade no ar. Sim, tenho ressentimentos e não são poucos, mas timidamente ainda ofereço a mesma flor amassada e meio pisoteada mas com a mesma essência, mesmo que um tanto quanto maculada com a lama das estações, do que resta ainda puro dentro de mim, seja amizade ou amor. Inutilmente, eu reconheço, sei que o gesto é mesmo patético. Mas essa flor que brotou em terreno fértil não me pertence, nasceu para ser dada de livre e espontânea vontade, por maior que seja a mágoa e apesar de todos os pesares, àquela pessoa por quem desabrochou. O irônico, o enxergar além das aparências rudes, é saber que ele ainda me ama e que se dá um tapa na mão que eu teimosamente tento oferecer é apenas para tentar ocultar de mim aquilo que está evidente, que me repudiar e me desprezar foram as únicas defesas que conseguiu encontrar para disfarçar sua dor.