sexta-feira, agosto 29, 2003

Eu tenho uma amiga que me julga interesseira e invejosa. O que me choca e me preocupa é que nunca consigo me ver no retrato que ela pinta de mim. Penso que bem ou mal conheço muito bem os meus defeitos, e me martirizo por meus erros, praticamente todo dia. Quando contra a minha vontade engoli minha vontade de mandar a vizinha e o maldito cachorro dela à pqp e resolvi fazer a festa do Gabriel com a empresa dela para que assim eu pudesse usar a área em comum dos apartamentos sem maiores conflitos, quando soube como resolvi o problema (pagando para calar a boca da vizinha) ela disse que essa era uma coisa típica minha, porque eu sempre fazia as coisas por interesse. Eu fico pensando em como tomar essa decisão me martirizou e em quanto isso vai me sacrificar financeiramente e não consigo encontrar a pessoa fria, calculista e egoísta que o espelho da minha amiga refletiu. Ontem, conversando sobre uma divagação minha a respeito de um envolvimento passado com uma pessoa "famosa", quando me recusei a dizer o nome ela disse que não acreditava em mim, que eu logo diria o nome da pessoa e me vangloriaria em cima disso. *Mas* eu não consigo sequer imaginar como eu faria isso, nem por onde começar! Não consigo entender porque eu deveria citar o nome do fulano! Mais importante, pelo menos para mim, era a história que me levou a divagar do que o nome da pessoa em si ou a fama dela e afinal o que isso tem a ver? Porque não deveria me/nos preservar, a minha/nossa intimidade? A divagação era se o envolvimento erótico com alguém "famoso" só por causa da aura de glamour seria equivalente ao envolvimento erótico com um homem não famoso mas muito desejado... Que acabou distorcido pro ponto que não faço *nenhuma* questão de abrir. Mas senti nos olhos dela que ela achava que eu estava me gabando/desejava me gabar desse feito. E eu, por minha vez, me retraindo dentro de mim mesma e achando aquilo tudo tão mesquinho... Deuses, será que *eu* realmente sou tão mesquinha assim? Ela também me acha esnobe porque escolho muito e só me interesso por um tipo de homem específico. Sim, é verdade, me interesso por um tipo MUITO específico de homens, digamos assim, compatíveis com meus gostos, talentos, atribuições, sonhos etc. Não seria feliz se fosse com outro tipo de homem. Sim, pessoas com menos instruções e mente mais limitada seriam para mim um tormento, eu sufocaria, secaria se tivesse algum relacionamento com elas. Mas não pelo preconceito que ela me imputa. Já amei pelo menos um homem assim. Que não conseguia me compreender, me julgava estranha, tinha pouquíssimos gostos em comum comigo, tinha todo um estilo de vida completamente diferente. Prefiro ficar sozinha a me sacrificar desse jeito, ou acreditar na utopia de um homem que reúna em si exatamente aquilo que desejo. Como disse, por fim, eu não entendo. Se realmente tenho em mim essas coisas que ela diz e me angustiam porque não consigo enxergá-las, então não me conheço. Se ela diz essas coisas para me humilhar e atormentar, então é menos minha amiga do que deixa transparecer. Mas eu fico aqui, tentando encontrar alguma ferida em que o dedo apontado se encaixe. Advogada do diabo de mim mesma. Sequer sei se estou tentando me encaixar em ser algo que não está em mim ou não. Mas a cada uma dessas conversas, me angustio e duvido de mim mesma. Será que ela tem razão?