O OUTRO LADO DA MOEDA
Dia dos Pais é um dos piores feriados do ano pra mim.
É quando o peso da minha escolha afunda mais nos meus ombros cansados. É quando sou lembrada, a cada segundo, bombardeada por todos os lados, com a certeza de que não escolhi um bom pai para o meu filho. Meu filho, praticamente, não tem pai. Não mais do que uma criança que tenha perdido o pai cedo. Meu filho, que se agarra às figuras masculinas que tem pela frente, porque a “figura paterna” oficial prefere simplesmente “esquecer” a existência dele (e aposto que diz para a próxima vítima que eu não o deixo ver o garoto – um dia fui eu a ouvir a eterna mentira e a detestar a criatura anterior a mim pelo seu egoísmo), não escreve, não telefona, não liga. Em todos os sentidos da palavra. Meu filho, que deu sua lembrancinha de dia dos Pais (que os colégios sempre nos empurram mesmo que seja contra nossa vontade) para o avô, que em sua cabecinha confusa tenta traçar as linhas de uma família comum sobre mim e a figura do meu namorado atual, numa esperança inocente de que o homem a meu lado talvez um dia seja para ele o pai que lhe faz falta... numa simulação do que poderia ser, quando nem mesmo eu tenho certeza do caminho a seguir. Só tenho certeza da enorme solidão que ajudei a criar numa alma pequenina, ao trazê-la ao mundo por amor, mas por um amor que se revelou tão sólido quanto castelos de areia construídos por mãos inexperientes. Eu amo meu menino com um amor de que só uma mãe é capaz. E dói saber que somos só nós dois e que eu, por mais que me esforce, não posso ser (e nunca tive o desejo de ser) mãe e pai dele. E que não posso confiar ao doador de sua semente um papel ao qual ele nunca se entregou. Sim, estou amarga. Isso passa. Bem ou mal eu ainda acredito em final feliz...