sexta-feira, agosto 29, 2003
Je suis née dans un jour de pluie... e por mais que às vezes eu me veja esperançosamente acreditando que aquele fiapo de raio de sol que passa entre as nuvens na minha vida é felicidade, e que assim nesses dias eu me sinta e me acredite, meio sem acreditar contudo e achando que estou sonhando, que estou feliz e a vida pode ser diferente, mais bela, mais plena, logo vem algo mais à frente arrancar isso de mim como um brinquedo caro na loja das mãos de uma criança pobre que nunca poderá tê-lo de verdade... não me é dado esse direito, tão simples na teoria, de reter em minhas mãos por muito tempo alguma felicidade. Minha realidade é esta: lágrimas, amargura, angústia, sobrecarga, opressão, a certeza de que não sou boa o suficiente, capaz o suficiente para partir este elo maldito que sempre me arrasta de volta para baixo. Às vezes sinto ódio de mim mesma, queria ter coragem para suportar a dor e vazar meus olhos para que não pudesse olhar de dentro do meu poço escuro o brilho das estrelas lá em cima, imaginar o vento livre e sentir o cheiro das folhas verdes, além de mim. Covarde que sou, prefiro esta dor pequena de alcançar com o olhar aquilo que não sou capaz de reter em minhas mãos e sonhando feito louca estúpida que sou em me libertar dessa maldita prisão e viver uma vida que não é a minha... Tento apenas, talvez, para me certificar de que falharei. Tão acostumada à derrota apesar de todos os esforços que uma pequena vitória para mim se torna tão milagrosamente importante quanto o prêmio mais caro. Carrego comigo, escondido num bolso, um resto de sonho precioso, no qual gasto minhas horas, que lapido pacientemente, detalhadamente, me iludindo que um dia eu possa entrar nele e vivê-lo. Tenho pavor que eles o vejam, o arranquem de mim sob uma saraivada de escárnio e zombaria e o pisoteiem, destroçando suas formas delicadas sob seus pés brutos, não deixando mais nada além de alguns fragmentos partidos, sujos de terra, espalhados no chão e minhas lágrimas.