sexta-feira, novembro 19, 2004

A un amour mort depuis longtemps

A un amour mort depuis longtemps

Eu havia quase esquecido. Há muito tempo não penso em você. E hoje na rua, andando sob a chuva fresca, pensando em outros olhos azuis, de mon français qui a rentrè online hier depuis quelques mois, d'aller en France un jour, des choses comme ça, eis que vem na minha direção um rapaz vestido de preto. E ele está me olhando, e eu olho para ele também, elegante, até bonitinho, eu penso. Nossos olhares se cruzam, passamos um pelo outro, tudo dura uma fração de segundos, acontece todos os dias, mais vezes do que posso lembrar. Eu estou com meu pensamento na França e levo um tempo para perceber. "Olhos bonitos... azul profundo... escuro... Eu conheço esse azul... Oh Deuses!!... " O sangue some do meu rosto e eu olho para trás, chocada, mas ele já desapareceu. E piso em falso, quase tropeço, fico desnorteada. Porque eu só vi esse azul uma vez antes na minha vida e eu amei esse azul mais do que tudo. "Deve ser lente" eu penso numa tentativa inútil de ser blasé, tentando não pensar que é a primeira vez em 12 anos que re-encontro um olhar como o seu. Uma fração de segundos, e eu me pego subitamente preenchida pela sua lembrança. O garoto deve ter a idade que eu tinha quando te vi pela primeira vez. Minha mente fervilha. Pensando em outros azuis eu re-encontro teu azul. Você morreu antes que eu pudesse dizer "eu te amo". Eu o disse para outras pessoas depois e isso me fez tão triste, eu queria ter morrido junto com você na época, mas eu vivi para seis meses depois conhecer aqueles que seriam o pai do meu filho e meu último amor. E casei, e tive um filho, e separei, e amei outros homens, meu bem, com uma intensidade e uma paixão com que ninguém deveria amar. Não consegui evitar a vida... Eu teria saído de casa aos 17 anos para morar com você sem olhar para trás. Nós poderíamos ter um filho quase adolescente agora. Você me amou da forma que eu sempre precisei ser amada, numa fase em que a vida ainda não tinha tornado seu passatempo predileto deixar cicatrizes na minha alma. Eu perdi essa liberdade. Nunca mais amei alguém que não usasse esse amor para me ferir. Criei tantas defesas, tantas desconfianças, estou tão traumatizada que não consigo imaginar que um dia serei abraçada, cuidada e respeitada por alguém que queira viver a meu lado. Mas eu vivi isso com você e embora eu grite por dentro revoltada com a vida "porque não de novo?", pelo menos eu VIVI isso um dia. Com VOCÊ. Mas você morreu e eu continuo viva, embora muitas vezes eu ache que vivi uma vida no mínimo vazia e meio idiota. Eu daria boa parte dos anos que vivi em troca de mais algumas horas com você. Mas ainda tenho o azul dos fins de tarde de verão para me embriagar, mergulhar na contemplação desse azul, como sempre faço nessa época do ano, todos os anos... Eu nunca te disse "eu te amo" e carrego sempre o peso disso dentro de mim. Mas dói menos pensar que você talvez já soubesse.