quinta-feira, dezembro 19, 2002

Estou caindo de gripe. Knocked out, really. Tanto que mal consigo trabalhar. Então fico viajando pela web, e percebo que há muito tempo não tenho visitado páginas novas. Nothing but the same. E minha cabeça fica viajando entre passado e presente e eu tento me encontrar em algum lugar no meio.

Quando eu e Alexandre estávamos juntos, costumávamos pensar no que faríamos quando tivéssemos 27. Jim Morrison, Kurt Cobain e mil outras referências na cabeça. Ele dizia que morreria jovem, eu mesma não sabia quanto tempo duraria. No nosso casamento sexo, rock, quadrinhos e delírios diversos se misturavam com toda a intensidade, cada segundo era vivido na ponta da faca. Uma viagem ao inferno com vislumbres do paraíso, talvez. Mil anos vividos em sete, sem pausa pra respirar.

Hoje EU tenho 27. Já tive 26, 25... O que tenho feito disso? Eu não sei. Living for the sake of living, me sinto morta por dentro há muito tempo. Sobrevivendo, apenas. Porque parei pra notar algo que está me consumindo por dentro, e não é de hoje. Apenas nestes momentos de pausa se torna mais explícito: EU PAREI DE CRIAR.
Bloqueio total. Quando foi que comecei a me perder? Eu não sei. Eu não desenho mais... Eu não pinto mais... Eu não tenho novas idéias para contos... E por mais que eu ame B., por ele eu nunca escrevi uma linha de poesia. Eu não fico mais rascunhando projetos de quadros em pedaços de papel... E tudo que eu faço me soa mais do mesmo. Me sinto vazia, vazia, vazia... Ontem eu estava desenhando com o Gabriel e NADA saía do contato do lápis com o papel. Estou me repetindo. Nada de novo surge. Tudo que desenho é mais do mesmo. Será que estrangulei tanto assim meu mundo interior que nada mais consiga gritar e sair? Será que toda a dor que os anos me trouxeram, tudo que perdi, tudo que vivi e que sobrevivi me consumiram e não deixaram nada que pudesse servir como fonte para ser traduzido pela alma? Não, nada me parece bom. E cada vez mais meus projetos me parecem distantes. Olho para a cara de Decadência, sento pra tentar continuar a história e não há inspiração sequer nos meus pesadelos para colocar o ponto que falta na história. Todos os links que bolo para a história, formas de amarrar a trama, tudo me soa idiota, forçado, coisas que você vê em quadrinhos da Image ou nesses arremedos de tentativas de quadrinhos em banca de jornal. Nem posso me dar ao luxo da ilusão de uma auto-crítica rigorosa demais. Eu assumo: só sai merda. Branco. Nada. Tudo forçado. Não me sinto inspirada a fazer diagramações bachalianas... E não estou satisfeita com meu traço, apesar dele ter evoluído. Teria que re-aprender a desenhar, perder vícios... Não tenho tempo, o tempo que tenho disperso vivendo, e quando estou diante do papel e me digo: agora vou parar tudo e criar algo, NADA acontece. Sabe aquela cena de A Lenda em que o Tom Cruise pula no lago para pegar o anel e quando sobe o lago está congelado e não há como sair? Me sinto assim. Parece que a mediocridade do dia-a-dia formou uma barreira intransponível. Ainda sinto a vida com uma intensidade alucinada, mas não consigo mais me traduzir em arte!