quinta-feira, agosto 02, 2007
Não me surpreende NEM um pouquinho
que as empresas que investiram na "novidade" que seria o Second Life estejam dando com suas "ilhas" na água.
Eu só tive paciência com o Second Life por pouco tempo. Estive lá três vezes: uma, quando criei a conta, para ver uma exposição virtual em um museu que só existia em Second Life, cuja renda estava sendo revertida para caridade. As outras duas, porque um dj amigo meu discotecou em uma "festa" virtual e porque um colega de clã em KoL me convidou para ir até uma ilha onde ele era um membro VIP.
Foi uma visita interessante, porque ele e seus amigos me presentearam com um quilo de itens para aperfeiçoar meu avatar, peles, roupas e funções para fazê-lo dançar e outros gestos. Também foi uma visita interessante porque a ilha pertence ao único lado do Second Life que REALMENTE dá dinheiro atualmente: o sexual.
A ilha pode ser definido como um complexo de "entretenimento" onde você pode dançar e jogar em um cassino, tomar banho em uma jacuzzi à beira-mar ou ir a uma festa estilo FetiXe animada por DJs, repleta de avatares que vão desde o sadomasô tradicional até os famigerados furries e dançar... Há umas bolas brancas onde você "senta" que fazem com que seu avatar assuma ações pré-definidas por esses "pods". Na área da jacuzzi você poderia colocar seu avatar para acariciar ou ser acariciado dentro da banheira, de acordo com a posição em que se sentasse. Fora da banheira havia "pods" para fazer seu avatar se deitar à beira da piscina tomando sol, ou fazer sexo em algumas posições... de quatro, fazendo um fellatio... Sinceramente, não consigo achar excitante a idéia de ver dois avatares fazendo movimentos repetitivos em posições sexuais enquanto sacodem as mãozinhas como se estivessem teclando. É, no mínimo, hilário e patético. De resto, depois de você se divertir experimentando os pods e trepando ou dançando virtualmente, matada a curiosidade, não há muito o que fazer além de repetir as ações até ficar de saco cheio delas.
O problema é MUITO fácil de reconhecer com um mínimo de senso de observação: não há muito o que se fazer em Second Life que não acabe se exaurindo rapidamente. E a GRANDE maioria das ações de marketing por lá peca pela burrice de considerar que, se você construir uma ilha, o público virá.
Basicamente em Second Life você brinca de boneca, montando seu avatar a seu bel prazer e colecionando acessórios e você VÊ coisas. Funciona bem para a exposição de quadros do meu amigo e para reconstruções de pontos turísticos reais em terras virtuais. Não funciona pra qualquer empresa que simplesmente faça uma filial virtual. Elas, no mínimo, ignoram que tipo de ação funciona num lugar como esse.
SE eu fosse empresa querendo chamar a atenção em Second Life, eu investiria em gente, não em ilhas. Veja só: as três vezes que entrei em Second Life foi porque alguém que eu conhecia me chamou para fazer algo lá: ir a uma exposição de arte, visitar uma ilha kinky e assistir a uma discotecagem em uma "boate" virtual. Relacionamentos, indicações, boca a boca. Se não fosse por este fator, eu sequer teria voltado. E aposto que é exatamente por conta deste fator que muitas pessoas, após experimentar o jogo, não retornam. Elas não têm nada para fazer lá. Voar por aí a esmo, experimentar ações em "pods" e brincar de boneca sozinho não é a experiência mais estimulante do mundo.
Eu investiria em acessórios para avatares com o nome da minha empresa, com um diferencial criativo que os fizesse ser copiados e espalhados entre os usuários como um meme, de preferência com algo que os induzisse a se relacionar com a marca, por exemplo: colecionando todos os itens sendo lançados num período de tempo X a pessoa ganharia um brinde/vantagem/desconto/serviço Y, ou com uma mensagem oculta que deveria ser descoberta pelos usuários ou fazendo um concurso para escolher a melhor customização do item tal e outras ações que fizessem o usuário interagir com o item, fixando o nome e o conceito do produto/empresa.
Eu investiria em boca a boca, em promoters, em jogos dentro do ambiente virtual e em criatividade. Um local onde você possa remixar determinada música com premiação para os melhores resultados, coisas que fizessem você passar tempo ali se divertindo e fizesse você contar para os seus amigos e te chamar para lá também. E, francamente, algo que fosse mais interessante e interativo do que ficar assistindo seu avatar se mexendo em um "pod". A maioria dos lugares que visitei em Second Life eram terrivelmente chatos e partiam da premissa de que só porque aquela marca estava ali você ia querer fuçar pelo prédio delas. Bleh.
E, de resto, eu continuo implicando com o fato de que a física de Second Life é patética, além de sinistra. Creepy as hell. Seu avatar passa pelas paredes e por dentro das outras pessoas, você é um fantasma voando por um mundo com paredes de papel. Juro que isso me dá nervoso! Para que carros e motos se você sabe voar? A última coisa que eu acho bisonhamente bizarra em Second Life é a falta total de privacidade na hora em que você está editando seu avatar. Tá certo que tem pouca gente em Second Life, mas não existe um lugar adequado para experimentar uma lingerie nova ou "itens" adultos como pênis realísticos para seu personagem rs... E eu já vi gente pipocando do nada em lugares onde amigos meus se dedicavam a essas "atividades". Constrangedor. Não sei se o pessoal do Linden Labs é preguiçoso por não criar uma área "privê" para o avatar enquanto a gente brinca de boneca ou se é voyeur mesmo e goza vendo as bonequinhas trocando de roupa na frente de todo mundo. Aiai.
De resto, quero saber qual vai ser o novo buzz marketeiro daqui a seis meses, quando a onda em torno de Second Life terminar de desabar rs...