terça-feira, junho 08, 2004

Eu acho que é amor. Porque eu, assim tão dividida, fragmentada, espalhada todas as vezes em que me sinto só, tão terrivelmente sozinha no meio de tanta gente, tanto vazio, lembro que não estou só de verdade. Porque você vive dentro de mim. Eu ando pelas ruas, por casas, bares, restaurantes, bocas e corpos e não me encontro em nenhum lugar. Mas a cada passo que dou, quando fecho meus olhos e sonho, quando ando pela Cinelândia sob o sol do inverno ou mesmo por qualquer motivo que seja, a cada segundo que me distraio da vida lá fora, você me vem. É o teu jeito de sorrir como um menino folgado quando se espreguiça gostoso esticando os braços, todo esparramado na minha cama. É o contraste da pele branquinha com os pêlos da barba que cresce rápido e você sempre reclama mas eu acho um barato, é tão seu, como todo o resto também, e eu amo tudo o que vem de você, cada detalhe e gesto. É a voz meio rouca no telefone, e às vezes tão límpida e clara, e eu nunca sei de qual das duas eu gosto mais. É a lembrança das marcas no meu corpo na frente do espelho, rindo meio divertida meio revoltada, porque cada uma delas evoca a maneira com que foram feitas. A luz do sol refletida no mel dos teus olhos de cílios tão longos, e eu nunca vi nada mais bonito que a cor dos teus olhos naquele dia, mas fiquei apenas observando e quantas e quantas vezes depois procurei olhar nos seus olhos apenas para confirmar que eles eram tão absurdamente belos quanto ficou gravado na minha memória. E são, mas nunca me canso de olhar. Essas horas que você me pega olhando pra você e pergunta "que foi?" e eu respondo "nada." E é também o jeito sério e responsável, táo compenetrado. E o menino grande adormecido no qual eu me aconchego como se fosse um bichinho. Eu já perdi você mil vezes. Eu já chorei todas as lágrimas que poderia chorar e já voei pra longe de você, arranquei você de dentro de mim com violência, tentei mesmo te odiar, só para descobrir que em todos os lugares que eu olho eu ainda te vejo. Eu fugi de você apenas para descobrir, no instante em que minha pele esbarrou na tua novamente, que não importa o que eu queira, o que eu faça, o que eu sinta, eu sou tua. Definitivamente tua. São minhas mãos que percorrem o teu corpo sem que eu perceba o que estou fazendo, é o jeito que você tem de me abraçar que me faz esquecer de mim mesma e de todas as promessas que fiz e não consigo cumprir no instante em que tua boca toca meu pescoço... E eu já te perdi tantas vezes, tanto, de tantas formas, que quando te tenho me entrego inteira e vivo cada segundo como se fosse a última vez. Te trago para dentro de mim numa tentativa boba de achar um jeito de não te perder novamente por inteiro. E é assim, talvez, que você acabe transpirando de mim a cada instante que me distraio da minha vida inconstante. Estar a seu lado fazia a minha vida mais bonita. Eu era mais mulher e mais menina, eu era simplesmente feliz, e isso sempre foi tão raro na minha vida... Por isso talvez eu ache que ainda te amo. Não achei ainda outra explicação para me pegar com um sorriso nos lábios e um jeito de menina sapeca no meio da rua, alheia aos olhares curiosos que tentam desvendar o que há. É você, dentro de mim. Again, and again, and again. E eu agradeço aos deuses, meu amor. Porque se não estou menos sozinha nesta vida, eu sei que me sinto menos vazia com a lembrança do teu sorriso para me acalentar.