segunda-feira, junho 07, 2004

Meu coração não quer deixar meu corpo descansar... O que há de errado comigo? Não consigo encontrar abrigo. Meu castelo é campo inimigo... E eu não sei, não sei mesmo. Sei que o cansaço do último contratempo tem mais do que muito a ver com isso, mas não estou nadinha satisfeita comigo mesmo. Eu queria mudar... Mudar é fácil, é o melhor caminho para não acabar sentada no seu sofá pensando mais uma vez se irá doer muito no momento em que a lâmina do bisturi finalmente atravessar a pele do seu pulso, misturando todas as cores dos lápis aquareláveis com o vermelho do meu sangue... É que eu mais uma vez me pego de ressaca da vida, insatisfeita comigo mesma e pensando: o que eu quero da vida? Estou vivendo o hoje, mas e amanhã? Ah, as coisas que eu quero demandam dinheiro. Mas o que eu quero? Uma vida burguesa consumista em que finalmente o bom apartamento com os móveis novos e os gadgets que eu desejo se conjuguem com sair à noite e ver vídeos e ir ao cinema e me drogar com pão e circo até finalmente algo fechar o livro por mim e então isso lá é motivo pra ficar viva? Anestesiar o sofrimento da existência navegando na Internet e jogando joguinhos de computador pra não ouvir aquela vozinha gritando lá dentro? O que eu quero? Quem eu sou neste momento? Quem eu serei daqui a dez anos? Pelo que eu luto?

Essa insatisfação súbita tem um nome, deriva do meu desejo intenso e incômodo de me APERFEIÇOAR. Porque no momento não sou boa o bastante para que nenhuma das mudanças que desejo fazer na minha vida ser consistente. É tudo um grande marasmo. Meantimes, meantimes. E eu perco oportunidades mas há que ter algo que me desgarre do rochedo, me raspe e me jogue no meio do mar. Eu grito, e o grito faz eco dentro de mim. Mas tudo é meantimes, eu não tenho dinheiro para me aperfeiçoar mas também não tenho tempo para fazer por conta própria e os impulsos são mornos e eu vou me achando medíocre e morninha e tanta gente melhor do que eu afinal... E nessas horas uma parte de mim grita: e aquela pessoa? Se perdeu? E outra diz: Eu acho que na verdade nunca fui... Mas como saber se eu nem tento? E como superar a mim mesma se sempre fica bom mas nunca é bom o suficiente? Estou esquecendo tanta coisa... Eu quero: reaprender a desenhar, reaprender a photoshopar, reaprender a fazer um flash decente, estudar anatomia, perspectiva, voltar a escrever, concretizar pelo menos uma idéia, levar pelo menos alguma coisa até o final. Tão fácil ficar no meio do caminho, fragmentada, cada vez mais. Queria algo de fora, uma droga, um impulso, um conselho, um amor que fosse que me fizesse sair de mim mesma e finalmente dar frutos ao invés de definhar lentamente no plano do potencial irrealizado. "Poderia ter sido" não me consola, me envenena. Mudar, mudar, mas como?