segunda-feira, janeiro 06, 2003

Este foi um final de semana de pérolas jogadas aos porcos. De passados queimados na fogueira. De lágrimas e dor. E de começos.

É preciso um estado de espírito peculiar para se fazer "faxina de virada de ano" em casa. Eu, que ao longo dos anos carrego lembranças e memórias de pequenas alegrias e momentos sagrados, às vezes encho o saco e saio passando a régua despudoradamente. É preciso essa coisa de baixar Shiva mesmo, senhor da Criação e Destruição, para jogar fora sem olhar pra trás o passado e fazer lugar para as coisas novas que estão por vir. No space pra coisas tipo "vou guardar isso porque pode ser útil um dia." Vou usar/precisar num passado próximo? Não? Lixo. Se precisar? Compro outro. Já há alguns spins da Roda tenho notado que cada vez menos me apego ao passado. Projetos antigos ainda guardo, porque sei que as idéias são boas e um dia ainda pretendo re-utilizá-las. Fazer re-leituras de re-leituras de re-leituras de mim mesma... existe fim para esse ciclo fatal? Minha arte talvez seja a única coisa a que ainda me apego, o espelho mais caro que ainda conservo para olhar para o passado... Poesias, desenhos e canções.
Um antigo amor veio me ver este final de semana. Joguei-o também dentro da fogueira, let's quote the raven: NEVER MORE is NEVER MORE. Sempre dói ver a beleza virando cinzas. Pois que eu dance a dança de Fênix: das cinzas desse passado que não me serve mais renasço mais forte, mais bela, mais mulher e sobrevivo, mais uma vez. O que não me mata me torna mais forte, né, tio Mi?

Estou cansada de gente que eu amo vivendo no passado. TEIMOSAMENTE se agarrando a coisas do passado para justificar seus discursos. Não me prendo às imagens que criam de mim. NÃO tenho a menor intenção de ser quem esperam que eu seja apenas para me encaixar no perfil de vilã/inimiga/culpada/sei lá o quê... É tão banal que simplesmente me entedia. Serei sempre como Caetano em O QUERERES, do contra sim. Já era assim quando tentaram me rotular pela primeira vez. EU não SOU o que VOCÊ quer que eu me torne. O que você vê além de apenas um dos meus aspectos? Quantas facetas você vê do cristal? Aponte seu dedo em outra direção. Quero viver a minha vida em paz. O retrato estático no porta-retrato congelado em algum lugar do passado por acaso pode equivaler à plenitude da carne, do calor da minha pele, do sangue correndo nas veias que tocam meu coração, das mil pequenas tristezas e alegrias que compõem a rotina diária da alma de uma sagitariana típica? Eu estou AQUI. Quem sou em minha plenitude e o que vai em minha alma expostos para quem quiser ver no fundo do meu olhar, que você conhece tão bem. Basta OLHAR dentro dos meus olhos. Qualquer outra verdade que não essa não passa do personagem que você criou em sua mente para me vestir. E na boa, eu não sou esse vestido que estou usando agora. Até porque prefiro caminhar nua.