sábado, fevereiro 22, 2003

Escrever para não enlouquecer...

Chego em casa cansada. Meu gatos não estão em lugar nenhum. Sumiram, na única noite que não passei em casa. Perdidos nesta cidade escrota... Se ainda estiverem vivos. Eu tô arrasada e paranóica. COMO assim eles sumiram sem que ninguém tivesse visto? Acordo quebrada pra descobrir que minha mãe se meteu de novo na minha casa, e sem se importar em pedir permissão pra mim arrancou uma das minhas plantas de um dos vasos (já estava morta! - disse ela) pra substituir por outra que ela havia me dado cujo vaso estava com uma ponta quebrada... e naturalmente jogou o vaso fora... E SE a vizinha não a tivesse impedido, ela teria jogado fora também o meu lírio, que está doente e estou cuidando há semanas, lentamente vendo-o recuperar folha a folha. Só não jogou pq a Gabriela disse q eu adorava a planta... Que direito tem ela de fazer o que quiser na MINHA CASA com as MINHAS COISAS sem se preocupar em falar comigo ANTES? Pois é, ela acha que tem. E lá vou eu me aborrecer de novo com meus pais... Preciso da impressora e do modem emprestados agora q o meu subiu no telhado e naturalmente se não quiser engolir os sapos que me estão sendo oferecidos numa bandeja plástica de florzinhas feias adivinhem se vou poder usá-los, mesmo sabendo que PRECISO da grana pra pagar as contas?
Oh well... Chego no corredor e encontro TODOS os livros do Gabriel espalhados, inclusive os raros que guardei da minha infância na esperança de ler as histórias para ele um dia... levou-os para impressionar as amiguinhas. Ainda tenho de ouvir que ele fez isso porque não dou atenção para ele. Claro, eu sou uma péssima mãe, ausente e irresponsável. Como ousei esquecer isso?

Uma vez você me perguntou sobre o preço que cada um tem de pagar por estar neste caminho. Você disse que desconfiava do meu preço, mas que ainda não sabia qual eu pagava. Não está óbvio? Todas as vezes que sou um pouco feliz, eu perco alguma coisa que amo. Eu espero passar algum tempo felizinha e saltitante, porque nada neste mundo parece amenizar o fato de que eu acho que perdi meu melhor amigo. Como isso não está acontecendo, tire suas próprias conclusões.

Já falei sobre isso uma vez. Trata-se de ultrapassar o métron, a medida dada pelos deuses a cada ser humano. Quando você rompe os padrões onde a realidade cotidiana te mantém, ela se volta contra você com força redobrada, para te forçar a voltar ao estado anterior. Tudo que te fere acontece. Quanto mais você avança, mais pressão é jogada contra você. Até você quebrar e parar de se debater e voltar para o seu lugar como um bom menininho, ou perceber o jogo, mandar tudo à merda e seguir em frente mesmo que a força das águas se torne insuportável. Eu estou arrasada mas foda-se muita coisa, não posso voltar atrás agora. Não QUERO voltar pra onde estava antes. A vida pode achar que eu me encaixo lá, mas eu não acho. Ninguém disse que livre arbítrio era fácil. Lembre-se que a pressão é insuportável, mas é maya. É um maldito teste de resistência. E para piorar, a cada degrau que você sobe nesta espiral, mais sozinho você se torna, porque o comum dos homens não está interessado em romper os limites a que se agarram. Too scary, pouco seguro e uma merda. Raras vezes eu encontro companhia na jornada. Mas não olho para trás, olho para os lados e sigo em frente. CLARO que estou arrasada. Não acho que precisava perder meus filhotinhos, foi tão bom ter gatos novamente em casa... Já me ofereceram outros, mas eu queria ELES. MEU Moonshadow. MINHA Lisa. Dói. Eu espero que eles voltem... mas não há mais nada a fazer senão esperar, não?