A Roda gira mais uma vez... em pleno festival da colheita me pergunto o que fazer com os grãos que tenho em mãos.
O sol está mais fresco, apesar de ainda estar quente, calor de verão, a brisa me diz que a roda girou. E a paz de saber que estes são dias sagrados me faz caminhar pelas ruas envolvida docemente pela energia da tarde ensolarada.
Devo interromper minha rotina diária e parar para meditar um pouquinho hoje no parque aqui perto. Tenho muito em que pensar.
"Agora é o tempo de ensinar o que você aprendeu, com os frutos colhidos." e me pego pensando que a vida finalmente me pegou de jeito, e chegou o momento de passar adiante tudo que venho aprendendo ao longo desses anos. E como o tempo é chegado, está sendo natural. Mas como tudo que é novo, e porque isso junta duas coisas que me são caras do fundo do coração (minha fé e meu amor), me dá arrepios de pânico, vontade de girar nos calcanhares e sair correndo. Apenas para no segundo seguinte sentir o grande amor da Deusa em mim e saber que estou fazendo o que fui chamada a fazer. Ah deuses, que a lição que estou aprendendo ao ensinar não me faça sofrer... e que eu tenha discernimento para diferenciar o que vem de mim e o que seja a vontade deles.
Para ir adiante no que é meu intento, caminhei sobre meus próprios passos de volta ao encontro da minha velha mãe espiritual... Esse reencontro vem acontecendo há algum tempo. Sinto que é chegado o tempo de aprender com ela coisas que faltaram no primeiro momento, e tenho descoberto que temos feito bem uma à outra. Encontramos, eu, a jovem mãe e ela, a anciã, forças uma na outra para lutar por nossos objetivos, sentar, planejar e agir em conjunto. Sim, sou sua filha. Pensamos e agimos de jeito parecido, embora nossos caminhos sejam bem diversos. E essa diversidade está nos enriquecendo. Eu, que vim para aprender com ela, me surpreendi quando em nosso último encontro ela me disse que queria aprender comigo... Minha mãe se torna minha filha. Minha irmã. E eu me assusto mais uma vez. O que aconteceu com o mundo, que todas as comportas desse aspecto de mim se abriram de uma vez??? Quem sou eu para ensinar algo a quem me ensina? Isto são mistérios. Que a voz da Deusa fale através de mim, se assim é determinado.
"Antigamente, nesses rituais, havia uma efígie do Deus Milho feita com vime e outros materiais. O homem de vime era preenchido com todos os “sacrificios” da aldeia. Frutas, grãos, riquezas, vinho e outras oferendas eram colocados dentro dele. Uma fogueira enorme era construída e consagrada. Durante a cerimônia de Lammas, o homem de vime era lançado sobre o Fogo e sacrificado, levando assim os desejos das pessoas até o mundo dos Deuses."
Fico pensando que talvez eu deva ser como a boneca de milho de Lammas... tem a ver com minha última visita ao lugar onde me encontrei no seio da Grande Mãe e me despi de minhas personas... Sinto que devo me jogar na fogueira e deixá-la me queimar... A Elaine do ano anterior deve ser jogada na fogueira para dar lugar à nova Elaine, recém-tecida das palhas de mim mesma. É esse novo aspecto que deve assumir agora para caminhar por um ano, e antes disso presidir ao grande girar da roda em Samhain.
"Lammas é o tempo de dar gratidão pelo que você começou a receber e sacrificar o que você puder dar."
E eu não sei, eu não sei, essa é uma verdade que me soa no momento inexorável. Ou será porque trocar de pele sempre dói?