sábado, fevereiro 22, 2003

Momento viagem total na maionese da tia Lanika ou I can’t stop thinking

Me bateu agora que a forma como as conexões acausais da sincronicidade estão relacionadas entre si só pode ser fractal... Jung dizia em seu livro que além dos acontecimentos com suas relações de causa e efeito presentes em nosso cotidiano, com essas causa e efeito manifestados de forma linear, os acontecimentos também estavam ligados de forma acausal, por assim dizer paradigmaticamente, de uma forma não identificável pelos mecanismos de percepção usuais do ser humano, mas ainda assim ligados. Sempre que penso em fractais, lembro da forma como quando eu deixo pingar uma gota de nankin sobre o papel esta imediatamente se espalha em todas as direções em pequenas e delicadas ramificações e sub-ramificações aleatórias, limitando-se apenas ao fato de que o estímulo inicial (a gota de nankin) só os permite desdobrar-se ate aquele ponto, perdendo depois sua força. Como um estímulo elétrico viajando através de sinapses cerebrais, como a forma invisível a nossos olhos que nossas navegações através de hiperlinks toma dentro da web, nossa vontade e o tema da pesquisa sendo os estímulos para tecer a trama de ligações entre os paradigmas.
O que procuro são as chaves para acionar as conexões acausais entre acontecimentos de forma a que se obtenha um efeito desejado, ou seja, instrumentos utilizáveis para interferir na forma como os acontecimentos estão dispostos corriqueiramente. Interferir nas probabilidades. Ter uma visão global de como a coisa é. Romper o véu e ir além, muito além. E de que forma é possível fazê-lo.
A chave mais tradicional para isso é o uso da magia. Crowley com sua Thelema aprendeu a utilizar a Vontade consciente como chave para a sincronicidade, embora o processo de despir a Vontade das travas da consciência e suas limitações seja extremamente penoso. Spare fez o caminho inverso: utilizou sigilos para fazer suas mensagens driblarem as travas da consciência e serem recebidas diretamente pelo Inconsciente. Também penoso. Leary mapeou o uso de drogas e seus efeitos na alteração da consciência, mas não sei se chegou a utilizar isso como chave para provocar efeitos na realidade ao seu redor. Toda tecnologia avançada demais para um tempo parece mágica. Cientistas observam PES apenas como um fenômeno curioso a ser estudado. Eu quero entender como funciona o processo de puxar um fio da realidade aqui para fazer com que algo aconteça e o que acontece em todos os outros pontos onde este fio está entrelaçado enquanto o puxo. E de que forma puxar o fio para que apenas aquilo que foi planejado ocorra. A forma como as conexões acausais atuam e estão interligadas me parece clara. E outra coisa parece clara: o mecanismo ideal para fazer o processo funcionar é a mente humana.
Através de rituais e cerimônias ao longo dos milênios magos de todas as civilizações parecem ter acessado pedaços da Verdade através do uso de um ferramental complexo mas rudimentar em seu alcance, que mais por um acaso parece ter tocado, mesmo de forma rudimentar, as estruturas da chave original, dando ainda acesso a uma porta que ainda está lá. Tenho a impressão de que a forma verdadeira se perdeu com o passar do tempo e que apenas um pálido eco resta, deformado e impreciso, da chave original, quase sem forma, mas que apesar de desgastada ainda pode ser usada para abrir a porta. É isso que me intriga: qual a forma verdadeira do que se perdeu ao longo dos anos? E se essa chave tosca que agora temos em mãos na verdade é a intuição de algo mais perfeito que ainda não existe mas que tentamos modelar às cegas, sem perceber que algum dia quase por acidente conseguiremos reproduzir a forma da chave ideal?