quinta-feira, março 13, 2003

Eu sinto a profundidade da pele encovada sob meus olhos. Eu vejo, no espelho, os sulcos marcados sob minha pele. Eu luto para manter meus olhos abertos. Eu sinto uma angústia leve na certeza de que não consigo respirar direito. Sufocada. Eu sinto meu cansaço estampado na palidez do meu rosto. Eu o sinto, sob minha pele, sobre cada pequeno músculo do meu corpo, nos braços que sustentam as mãos no teclado, embora um pouco de vitalidade ainda resida na ponta dos dedos que teclam sem parar. A voz ao telefone na mesa ao lado se torna quase insuportável. Todos os ruídos cotidianos penetram pelos meus ouvidos sem serem desejados. O que eu não daria por um pouco de música e poesia... Lenta e delicadamente me forço a cumprir minhas tarefas de rotina. Além das aparências, a fraqueza em meu corpo se embala sobre cada membro, confortável na sabedoria de que nada poderei fazer contra ela a não ser suportá-la e esperar que se retire. Não há palavras doces para meus ouvidos. Não há nenhum oblívio. Ontem, na intimidade da noite no meu quarto, me deixei levar por um sono sem retorno, abatida pelo próprio esforço de sobreviver ao cansaço e cumprir meu dever. Hoje, sou apenas um esqueleto no teclado. Todo o meu corpo clama pelo retorno ao leito. Cada passo que dou me lembra que tem seu preço. A criança em mim chora tristemente e implora que eu lhe consiga um regaço onde pousar sua cabeça e fechar os olhos. A mulher em mim, acostumada com a solidão, apenas abana suas mãos no vazio e olha desconsolada para a criança que sou eu: sabe que não há lugar onde encontre esse doce remédio.
Mas sim, há um lugar. Ele se encontra em você. Mas você não está do meu lado. Você cuidaria de mim? Simplesmente acariciaria meus cabelos e me faria dormir? Cantaria suavemente uma música tola que arrancasse um sorriso de meus lábios fatigados, um suave raio de luar no meio de nuvens carregadas, me traria um momento de paz?


"eu sou uma tola" - penso, e retiro as mãos do teclado. Mas ainda encontro um fio de esperança em meio ao cansaço. Apenas não sei onde ele está.