terça-feira, abril 15, 2003

E eu não sei... a cabeça girando com coisas e palavras de conversas que tive nos últimos tempos. O que quero e o que sou, quem eu sou e onde quero chegar? Tudo me soa tão frágil, tão frágil... como delicadas teias de aranha desfeitas por ventos fortes num fim de tarde de agosto. Posso mesmo ver o céu amarelo-avermelhado e as nuvens lá longe no horizonte, e as teias, ah as teias pesadas com gotículas de água da chuva que passou por ali e não deixou pedra sobre pedra... Porque estou assim, pensando em sair de As Horas e conversar sobre a diferença entre prostituir a essência de sua arte para se tornar conhecido ou fenecer como uma rosa grega, que se rega com água quente e embora floresça radiosa, fenece no mesmo dia... Estou assim, pensando "que desperdício" ao ver que entrei e saí de vidas que embora possuíssem um conteúdo profundo nos últimos tempos andaram se esfacelando e beijei e amei a sombra de um homem de quem apenas os olhos azuis e a teimosia inerente permaneceram, e um brilho no olhar em tempos de escuridão... penso em moscas se debatendo em teias no escuro e como alguém se entrega a si mesmo quando tem um pouco de arte dentro de si. Estou pensando em um menino homem que amei e se encontrou e agora é feliz mas sabe com uma certeza absurda que sua felicidade durará apenas um momento fugaz e depois se desvanecerá no tempo... que seu amor perfeito vai morrer e mesmo assim, que ele deve vivê-lo... Estou pensando em como esse menino está certo em dizer que sou uma adolescente quando se trata de me relacionar com os outros e eu pergunto com tristeza na voz "o que eu preciso para crescer?" "Amor", ele responde. Amor... logo o ingrediente mais difícil da receita? Estou pensando em como palavras simples me mostram como minha felicidade é mais frágil que fios de açúcar que se desfazem e quebram ao primeiro toque, ao mais leve sopro... A teia na qual me enlevo é frágil, esse véu de maya que me envolve é frágil, tecido por pequenas aranhas de ilusão e basta essa pequena verdade soprada para ameaçar desfazer o tecido tão levemente trançado... não quero lembrar do que vejo quando olho no espelho, do que não quero ver quando olho no espelho, do que estou fugindo, e como é ridículo esconder algo de si mesma... porque está ali, sabe, refletido no fundo dos olhos, todas as vezes que olho tentando não me ver no espelho. Está ali. Quem eu sou, do que estou fugindo, do que tenho medo e não tenho coragem de dizer, ou pir, não tenho coragem de viver, ou pior ainda, não tenho coragem de viver desse jeito... Ups, downs, ups, downs... Essa sensação de uneasy louca, como uma ferida crescendo em algum lugar que se pode coçar mas hey, eu estou feliz, então o que é isso que anda se esgueirando pelas sombras vindo na minha direção? Porque eu voltei a ter pesadelos. Porque ele vem e me diz assim: que estou fazendo a roda girar para trás ao invés de olhar para a frente, e porque eu não tenho coragem de tirar meus esqueletos do armário, logo ele, que queimei na fogueira junto com aquele que veio depois dele, tão triste, tão fugaz... E ele diz que eu deveria estudar Astrologia mas eu teimosamente me recuso, sempre fui uma bruxa de ervas, energias, luar e intuição mas talvez ele esteja certo afinal, mas diabos, ainda assim eu vou estar desviando do meu caminho... E tem um tempo que estou vivendo sem me deixar levar pela simples beleza de viver e ontem mesmo estava me perguntando onde estava a magia em minha vida... hora de voltar, Samhain se aproxima... e essa necessidade absurda de não ver ninguém e ficar sozinha mas-eu-estou-feliz e como é possível querer ficar sozinha e ao mesmo tempo querer estar feliz? Estou pensando que qualquer pessoa nesta vida teve mais do que eu tive, que tudo que vivi me soa pequeno, superficial, vazio... Que não sei o que quero mas o que eu queria, neste exato momento, era saber o que exatamente me faria ser feliz e realizada de verdade, em todos os sentidos, e arrancar de mim a parte que nunca termina o que começa, a parte que foge acuada e se esconde diante da vida, a parte que nunca se entrega... E que se tenho exatamente o que pedi, alguém pra cuidar de mim, alguém pra simplesmente me abraçar e me entender, com todas as minhas manias ridículas e defeitos, se eu finalmente estou tendo esta sorte, depois de tanto tempo na minha vida me sentindo como um pedaço de tábua jogado no mar no meio de uma tempestade, porque não relaxo e me deixo levar, como uma menina feliz que ganhou o que mais queria de presente de natal?