quarta-feira, maio 02, 2001

Acabei de voltar de um feriado esquizofrênico onde li muito Stanislaw Ponte Preta e me esforcei para não tentar fazer nada o dia inteiro, prioritariamente brigar mais uma vez com meu ex... Sei lá, é o tipo de coisa que deixa meu humor meio ácido de manhã, principalmente porque hoje já que cheguei cedo (vai chover) no trabalho parei em frente de uma banca de jornal só pra ler estampado nas manchetes em letras garrafais e fundo colorido mais um retrato da violência que já se tornou cotidiana em nossos “noticiários sanguinários”. Me desculpem, mas não consigo achar normal um jornal anunciar com todas as letras como uma mãe violentada e esfaqueada morreu na frente da filha igualmente brutalizada sem sentir nojo. Do jornal, da notícia e de nós mesmos, que perpetuamos o círculo vicioso tentando nos anestesiar até o dia em que a maldita violência bate na nossa porta. Aí eu me lembrei de Tori Amos. Até semana passada eu não sabia da história de vida dela. Eu estava conversando com uma colega de trabalho sobre Tori e ela disse que parecia conhecer a voz dela e perguntou se ela não estava na trilha de um seriado que eu não costumo assistir. Fui conferir. Caí na Web e dei de cara com uma página de vítimas de violência sexual inspirada numa música dela que já ouvi vezes suficientes sem jamais me perguntar porque diabos ela doía tanto em mim. (http://www.welcometobarbados.org/main.html) Stupid me, SO OBVIOUS. Tori havia sido vítima também da mesma violência sem sentido. Doeu. Doeu muito. Me desculpem, mas não acho normal alguém ler isso no jornal com a mesma avidez que alguém procura saber quantos gols o Flamengo fez no último Domingo. Sabe, tem muitos anos que eu não comemoro o Natal. Eu também tenho minha historinha de assombração. Acho que cada pessoa tem a sua mas a vida seria bem melhor se a violência pudesse ficar só na página do jornal. Na verdade eu preferia que não estivesse lá, também, incentivando outros filhos da puta a querer virar manchete e partindo o coração de gente que já passou por isso e tem que ficar lembrando de uma coisa que todo dia a gente luta pra esquecer.