terça-feira, maio 22, 2001
Acabei encontrando com Alexandre e já começou a ser frustrante e surreal ali. Discutimos longamente durante a viagem, em inglês “pra praticar”, o que só tornava a discussão mais surreal ainda. Enquanto eu estou aprendendo quem sou eu e me assumindo e me forçando a espiar fora do armário, ele está fazendo o caminho oposto e se negando para formar uma nova identidade... Até aí eu não sei o que é mais unsetling... A atitude blasé ou o look “crente” de terno e óculos Renato-Russo. Finalmente chegamos na Bienal e depois daquela rotina desorganizada de todo santo biênio (incrível, somos todos chiques, classe AA, A e outras pilhas menos cotadas mas mesmo assim parecemos animais nos espremendo pra comprar ingressos ou descolar credenciais e nos atropelamos na direção das roletas, tentando não borrar a maquiagem...) corremos pra procurar o stand da Conrad onde tio Neil se resignava à missão que lhe fora imposta pelas circunstâncias. Simpático, um docinho, mas TÃO cansado... Corremos e... demos de cara com Henrique na fila, o padrinho do meu filho, que simplesmente NÃO TINHA IDÉIA de que Neil Gaiman estava na Bienal e caiu ali por ACIDENTE. Mal sabia eu, no meio da minha empolgação, que ele ia acabar fazendo por mim a coisa mais legal que alguém fez nos últimos tempos. Sabe, quando paro pra pensar e acho que não tenho realmente ninguém no mundo que posso chamar de amigo, eu lembro do Henrique (que acabou virando padrinho do meu filho). Nós estamos um bocado afastados e às vezes eu acho que encho o saco dele mais do que deveria. Eu sei bem que ele já deve ter pensado em torcer meu pescoço mais de uma vez. Aliás, uma vez ou outra ele até já me confessou isso. Nossas realidades se tornaram diametralmente opostas com o passar dos anos.