quarta-feira, abril 17, 2002

Uma vez envolvida no processo de criação de uma nova história, eu comecei a atrair aquilo que sempre vem junto quando você acabou de ter uma idéia brilhante no meio da rua e sente aquela urgência de registrá-la no papel: os CHATOS.
Tipow, cena minha ontem na hora do almoço: saí armada com minha boa e velha bic preta e papel para rascunhar meus pensamentos e fui comer uma esfiha na lanchonete do shopping perto do meu trabalho. Tinha uns dois meses que eu não entrava lá. Apoiada no balcão, começo a reler o que havia escrito na noite anterior e fermentar as idéias na cabeça, dividida entre a vontade de caracterizar os personagens em sketches e continuar escrevendo o roteiro. Eu SABIA que estava chamando atenção mas até aí foda-se, não vou deixarvde registrar uma idéia n hora que ela vem só porque tem platéia assistindo... Anyway, estou lá eu relendo meu roteiro quando uma das atendentes comenta: "pequenininha sua letra, hein?". Dou um meio sorriso amarelo, me concentro no roteiro e na esfiha e decido fazer um esboço da personagem principal... "Poxa, você desenha bem! Você dá aula de desenho???" perguntou a menina, me olhando com uma expressão parecida com a de um cachorrinho querendo agradar o dono... Novamente interrompida na minha linha de raciocínio, tentando conter o fluxo criativo e não deixar a idéia escorrer pelas minhas mãos, ergui o olhar para ela, engoli minha vontade de responder e respondi num outro sorriso, deixando escapar um tibre maior de impaciência do que eu queria "Não, não sou..." e voltei para a tarefa de dar vida aos cabelos negros e à pele pálida de Alice Stone... Ainda observada pela atendente, pela colega dela e por mais umas três pessoas, notei a chegada de um rapaz de negro que parecia um pouco diferente da média do grupo ao meu redor... Ele começo ua observar a cena se divertindo e eu, meio por estar sem graça e meio em nome da minha paz de espírito, resolvi parar de desenhar e voltar a escrever, porque assim provavelmente eu chamaria menos atenção... As palavras começaram a fluir pela caneta, e como eu havia coemçado a escrever em inglês, assim eu prossegui. "Você é professora de inglês?" soou a vozinha irritante da atendente. Mais uma vez arrancada do meu universo gótico pelas cores berrantes da lanchonete, forcei um sorriso que deve ter saído uma careta e disse com uma voz meio estrangulada: "Não, porque você acha isso?!" "Ah, porque você tá escrevendo em inglês, e tá escrevendo tão direitinho!... Mas pode deixar, que você tá escrevendo em inglês e a gente não tá entendendo nada" "NÃO, não sou professora de inglês." e tentei voltar minha atenção para a angústia do personagem, mastigando o resto da esfiha... Ergui a cabeça e dei de cara com as duas, olhando para o que eu estava fazendo e esquecidas do resto dos fregueses, num sobressalto que me deu vontade de rir... Não agüentei, tive de parar de escrever. Aí foi a vez do cara de preto começar o questionário. "Você desenha bem... pra quê isso?" Respondo como já respondi milhões de vezes "estou bolando uma nova história em quadrinhos etc etc..." e espero pela famosa frase: "eu tenho um primo que também desenha, você devia conhecer ele..." Nao deu outra: "Eu tenho um colega que também desenha histórias em quadrinhos, eu acho muito legal... Você já publicou alguma coisa? Você ganha dinheiro com isso?" Respondi as mesmas coisas que respondo numa situação dessas, aproveitei a deixa para pagar às meninas e me retirar do recinto com uma súbita e irresistível vontade de procurar um canto no terreno baldio da rua de cima, sentar embaixo da sombra de alguma árvore e não ter outro contato com a civilização gonçalense até o fim da minha hora de almoço...