segunda-feira, setembro 30, 2002

This is the first day of the rest of my life.

Era uma vez Daniel. Eu estava há dois semestres na faculdade. Judeu, branquinho, bonito e inteligente. Ele havia se transferido de cinema para publicidade e rapidamente nos tornamos amigos. E eu me apaixonei perdidamente por ele. Eu adorava estar do lado dele. Fazíamos tudo juntos. Ele havia sido infeliz no amor. Eu também. MAS eu cometi um erro. Eu contei a ele que gostava dele. E isso acabou com nossa amizade. Ele não acreditava que eu pudesse estar ao lado dele sem querer algo mais. E quando ele olhava nos meus olhos, e via que eu o amava, isso só dava a ele certeza de que ficar perto de mim era errado. CLARO que eu não podia fingir que não o amava. Estava lá nos meus olhos. Mas mesmo isso ele não podia suportar. E ele passou a me evitar e me machucar.
Um dia, eu estava no corredor da faculdade. Chorando, não me lembro mais porque. E ele me viu. E me abraçou. Eu tremia nos seus braços. Eu sentia o perfume dele, o calor do abraço dele e me doía mais ainda saber que não teria mais nada dele, que não podia ter mais do que aquilo, que tudo para mim era impossível e proibido. E chorava mais ainda por isso. Eu acariciava seus cabelos, seu corpo com doçura, mas um desespero triste. Senti o rosto dele contra o meu rosto e durante algum tempo isso bastou. Mas aconteceu, nossos lábios se encontraram. Nunca um beijo na minha vida vai ser como aquele. Eu chorava por dentro, eu sentia que aquele beijo tão desejado, tão doce, tão desesperado, tão triste, pelo qual eu esperei tanto tempo ia me custar caro. Ele foi o fim. A partir daquele dia Daniel nunca mais se aproximou de mim. Eu o perdi para sempre.
Meu desespero me levou à loucura. Ele nunca me perdoou. Eu vivi para aprender a nunca mais abrir meus sentimentos. Para saber que, toda vez que me apaixono, é mais seguro deixar esse amor platonicamente morrer dentro de mim. Eu nunca digo "eu te amo". Eu nunca abro minha dor pra ninguém.

Hoje, mais uma vez, estou louca. Fui além de todos os limites. Meu coração só sente ágape. Meu amor só afasta, só força a barra, só fere quem eu amo e nunca se realiza. Eu sou Clarice uma vez mais. Sozinha em silêncio no meu quarto, onde só existe dor e desespero, com meu estilete, fraca e covarde. Estou cansada desse peso. Estou cansada dessa vida. De cometer os mesmos erros. Cansei.