Dos meus tempos de ausência do blog, datado de outubro, para os que sempre me perguntam sobre Decadência
"Em maio deste ano me separei do meu marido, Alexandre, depois de me envolver com ele desde 1993 numa história de amor, almas gêmeas, muita criatividade, total envolvimento, depressão, dor, sexo, liberdade, perdas e danos. Há seis meses venho tentando reconstruir minha vida, que no fundo é uma casca vazia sem sentido. Me falta algo, talvez tenha sempre me faltado.
De qualquer forma, em 93 eu havia criado Decadência e nos primeiros momentos o fluxo de criatividade e loucura que gerou a cidade foi incrementado pela minha união com Alexandre. Aos poucos, porém, foi sendo posto de lado em favor dos projetos dele. Decadência só passou a existir nos meus devaneios e como o “projeto maravilhoso da Elaine que não foi pra frente”. Só que as historias sempre me assombraram no meio da noite, pedindo pra sair, pra fluir, pra explodir fora de mim. Nestes últimos seis meses, vivendo e vegetando numa rotina instável, depressiva e tediosa, tentei começar a ordenar Decadência e deixar a cidade nascer outra vez, quase dez anos depois. Dez anos depois, minha autocrítica me diz que muito do que fiz foi lixo, mas muito do que criei ainda me soa bom pra caramba. Então, resolvi deixar de racionalizar e tentar colocar ordem na bagunça, botar a cidade pra fora de mim outra vez. Deixar a coisa fluir. Tenho que concluir Decadência e coloca-la no ar, nem que ela seja a única coisa boa que eu faça nesta vida. Preciso vê-la pronta. Nem que eu morra tentando.
Há mais ou menos um mês, um amigo e ex-namorado, André, por acaso ressurgiu na minha vida e como ele também desenha quadrinhos, começamos a conversar. Eu estava com o embrião da volta de Decadência na minha mente, conversamos durante horas e ele achou o projeto interessante. Decadência ainda vale a pena, depois de todos estes anos. Ele quer trabalhar no primeiro ciclo de histórias, fazer sua própria versão. Eu acho isso legal, não sei se sozinha teria forças para desenhar tudo. Sou instável demais para isso. Ele deixou claro que fará a SUA versão, nada contra. Na idéia para a home-page existe até uma seção para isso, chamada Decadência Be My Guest, onde seriam publicadas histórias de outras pessoas baseadas em Decadência. Eu gostaria de chutar minha vida medíocre para o alto e me dedicar somente a este projeto, que é minha paixão. Com um pouco de sorte, em 2003, quando Decadência estiver fazendo dez anos, eu possa finalmente colocar alguma coisa no ar. Já é tempo.
Hoje noite que não adianta tentar roteirizar Decadência sem montar as peças que faltam do quebra-cabeças. Material precioso se perdeu ao longo dos anos. É um trabalho arqueológico mesmo. Vou ter que criar coisas completamente novas para preencher os buracos que os anos criaram e as coisas que esqueci ou pior, as idéias geniais que tive, os sonhos, tudo que simplesmente não coloquei no papel, soluções para diversos problemas. Terei que redescobrir tudo que criei e não anotei, terei que recriar muito. Será um mergulho intenso, louco e febril. O esforço de uma vida inteira. E solitário, porque ninguém irá compreender o quanto preciso disso.
Então é isso. A partir deste fim de semana, vou tentar separar um tempo pra botar ordem na bagunça e começar a formatar a versão definitiva de Decadência. Que os deuses me ajudem. Que eu não enlouqueça de vez no caminho."